26.9.08

Exorcismo*

Beware. Beware.
There's a psychic caveman whispering under your pillow
inserting words into your head
like coins you cannot recover.

*ou há palavras que se nos colam à pele e que é preciso darmos-lhes pernas e braços para andarem daqui para fora. Estas já me chupavam o sangue há alguns dias. Ite.

25.9.08

Um Duelo...

"O meu amor" um dos temas da Ópera do Malandro de Chico Buarque.

...É sempre sobre Possessão.

19.9.08

Cede-se

Olhar nos olhos das pessoas que passam comove, elas não estão habituadas e comovem-se também. Comove de igual forma ler algumas crónicas de Lobo Antunes no metro, onde a solidão se encosta a nós no banco do lado, a espreitar o que lemos, indiscreta. Comovo-me com pouco nestes dias porque o mundo todo parece estar à beira das lágrimas; parece estar na prolongada iminência do soluço fundo que antecede o pranto. No caminho que faço todos os dias o andar é compassado com um adagio cantado pelas gaivotas, pelo marejar dos barcos, pelo roçagar dos transeutes uns nos outros, pelo café a fumegar das máquinas, pelo fumo soprado para a atmosfera por lábios que nunca se encontraram. Nestes dias chego ao fim do dia em pequenos fiapos, com vontade de chorar a tristeza que sinto. Mas a tristeza não é minha, não me é de direito chorá-la. Alguém a quer?

Eu não devia te dizer
mas essa lua
mas esse conhaque

botam a gente comovido como o diabo.


10.9.08

Statement*


*ou há noites em que acordo ofegante quando tudo o que quero dizer passa-me vertiginosamente à frente dos olhos antes que consiga sequer entreabrir os lábios.

9.9.08

A contas com o bem que tu me fazes

Ficar. Viver a vida mais fácil, sem grandes mudanças, sem grandes apostas, mais calma, mais dócil, amansar os cavalos do destino e seguir o caminho mais previsível.

Partir. Sem saber para onde, sem saber para quê, apenas porque cá dentro há inquietação. Ser a pessoa que sou e não abdicar disso por nada. Ser só, mas ser inteiro.

À partida, quase toda a gente escolheria a segunda opção, mas curiosamente quase ninguém o faz efectivamente. Pior: às vezes pensam que escolhem a segunda e nunca sairam do caminho da primeira. A segunda é bela, é a mesma dos poemas homéricos, da poesia pessoana e mundana, das lyrics que esticamos e moldamos para caberem no nosso corpo.
Mas tudo isso é ficção, lê-se nos livros.

Consegues pôr o pé aqui no chão e viver a realidade assim?

O QCI regressou do reino de Hades para me sussurrar esta letra ao ouvido e dizer que há pessoas que conseguem Ser sem mais nada. Mesmo que fiquem sozinhos no fim. Mesmo que o mundo os repreenda e nunca os compreenda. E essa coisa é que é linda...

4.9.08

Time to celebrate!

We do receive without asking, my dear!

2.9.08

chovia

Não gosto muito de falar de actualidade, de notícias e coisas demasiado concretas e demasiado pontuais. Como tudo o que é dessa natureza esgota-se na sua curta duração. Prefiro pretéritos imperfeitos que se prolongam inacabados até ao presente ou, quem sabe, até ao futuro. São os pretéritos das memórias, das histórias mais ou menos ficcionais, dos hábitos mais ou menos rotineiros. O presente esgota-se no segundo em que existe. Parece demasiado efémero para ser agarrado. A dicção apressada dos locutores dos telejornais, dos repórteres parece querer alcançar o inalcançável. Os notíciários, bombeados pelo sensacionalismo agora em voga, dão-nos o imediato, o hoje, talvez o ontem, outras vezes uma previsão do amanhã (vai chover, a bolsa vai cair, o furacão Gustav vai chegar ao Louisiana) e nada mais. Preciso de mais.


Não obstante tudo isto, discerni o seguinte: a "conjuntura actual" (que é o termo devidamente abrangente e indefinido de que se precisa) vai levar-nos a uma crise sem precedentes. Tenho para mim que o melhor era ir comprar alguns enlatados ao lidl, embalar os meus livros, juntar umas cobertas e escavar um abrigo. Nunca se sabe.

1.9.08

world gone wrong

O bom de voltar a viver na terra natal: no caminho para o trabalho, reencontrar pessoas que não vemos há séculos e que em 3 ou 4 palavras percebemos que não devia ter passado sequer uma semana.

O mau: tudo o resto.



Café 1eur Leadbelly 3,75eur

Inteligência é saber distinguir o fútil do essencial. E viver dispensando o fútil.

(E a conversa termina por aí mesmo com a sensação solene de que uma verdade foi dita.)