29.5.09

B&C

A propósito da notícia sobre a abertura ao público do processo Bonnie&Clyde pelo FBI, sinto-me impelida a falar de liberdade. Não condeno nem perdoo esta dupla pelos crimes que cometeu, mas invejo-os pelo que sentiram durante esses dois anos de fuga. Penso que não haverá maior liberdade do que estar sempre na iminência de a perder. Todos nós, os mortais, jamais sentiremos a vida a pulsar nas veias como tambores primordiais; jamais, como eles, seremos baleados até a vida, a dignidade e a beleza (mas não a memória) abandonar o corpo desfeito.

O Mickey e a Mallory são a actualização muito stoniana/ tarentiniana deste mito.
Também os tenho no altar, mas dos loucos.
Estes não.

25.5.09

L. Garrel

(reminder: percurso até agora imaculado, a seguir)

18.5.09

emoções

Se eu tivesse tempo, criava um blog elaboradíssimo anti-rita red shoes.

Por outro lado, ainda bem que eu não tenho tempo para essas coisas, transformar-me-ia num ser desprezível, alimentando a minha ira dessa forma. Assim, não lhe dou muita conversa, não lhe dou lugar, viaja sempre de pé, a acotovelar tudo e todos, mas à pressa, e, por isso, apenas de passagem. Fiz esse contrato com a minha harmonia.

Gosto de personificar emoções. Povoam-me os quartos vazios da alma.

17.5.09

Visita

Parece que se respira novos ares na blogosfera.

Benditos os audazes!

12.5.09

lady in distress

Isto dos blogs às vezes irrita-me.

Mais ainda quando vejo o verbo conjugado.
Parece algo semelhante a vomitar.
E reparo que é mesmo.

4.5.09

os vivos


A construção de um indivíduo marca-se e conhece-se por coisas como esta.

Quem conseguir ouvir isto e mais isto, que é a continuação, e não sentir a pele a eriçar, não sentir sua a raiva de gritos ensurdecedores, não sentir as lágrimas a romper, quem não reconhecer este homem como um dos poucos vivos que para aí há a percorrer a terra, está morto.

O José Mário Branco, assim como quase tudo o que conheço hoje de música e dos vivos, veio pela tua mão, que já é minha também, que é nossa. Veio e virá, porque tu és inesgotável e eu só espero conseguir ser sempre insaciável.

Mãe, eu quero ficar sozinho... Mãe, não quero pensar mais... Mãe, eu quero morrer mãe.Eu quero desnascer, ir-me embora, sem sequer ter que me ir embora. Mãe, por favor, tudo menos a casa em vez de mim, outro maldito que não sou senão este tempo que decorre entre fugir de me encontrar e de me encontrar fugindo, de quê mãe? Diz, são coisas que se me perguntem? Não pode haver razão para tanto sofrimento. E se inventássemos o mar de volta, e se inventássemos partir, para regressar. Partir e aí nessa viagem ressuscitar da morte às arrecuas que me deste. Partida para ganhar, partida de acordar, abrir os olhos, numa ânsia colectiva de tudo fecundar, terra, mar, mãe... Lembrar como o mar nos ensinava a sonhar alto, lembrar nota a nota o canto das sereias, lembrar o depois do adeus, e o frágil e ingénuo cravo da Rua do Arsenal, lembrar cada lágrima, cada abraço, cada morte, cada traição, partir aqui com a ciência toda do passado, partir, aqui, para ficar...
(...)
Sou português, pequeno burguês de origem, filho de professores primários, artista de variedades, compositor popular, aprendiz de feiticeiro, faltam-me dentes. Sou o Zé Mário Branco, 37 anos, do Porto, muito mais vivo que morto, contai com isto de mim para cantar e para o resto.