Não querendo cair na tentação de transformar este canto num videoblog, mas ao mesmo tempo caindo, aos poucos, por falta de tempo/criatividade/tempo, não posso, mesmo assim, não publicar isto.
quando tens o mundo inteiro a torcer para que seja tudo bom outra vez, seria de esperar que alguma espécie de energia atravessasse os corações e concretizasse, de facto, alguma coisa. Mas isso não acontece, até porque a torcida só dura o tempo do álcool nas veias, a ressaca do dia 1 já escurece as perspectivas e mata os neurónios que festejaram o ano novo na noitada anterior.
as passagens de ano são sempre lugares de angústia para mim. esta começando por não ser, acabou por sê-lo também. invariavelmente. não há como contornar esta evidência: as grandes mudanças operam escavações miocardianas das quais nunca mais se recupera. pior é que a mudança de ano nem sequer é uma grande mudança. é um segundo que passa e um calendário que se rearranja. mas as pessoas que rasgam a folha do ano passado ainda o têm dentro delas e vai continuar, menos se tiver sido bom, mais se tiver sido mau. a grande mudança é um eco que se agiganta do tamanho do mundo e depois não é nada. varre-se com as serpentinas e com as garrafas partidas.
sei que o que quero aqui dizer afunda-se no mais gritante dos lugares comuns, mas tenho a necessidade de dizê-lo. até para me explicar a mim própria, por a+b, que a vida continua serena, sem sobressaltos e que se eu quero ver o mundo do alto de uma montanha, tenho de ser eu a erguê-la... da mesma forma que inevitavelmente escavarei e me afundarei em fossos profundos se me deixar ficar parada no mesmo sítio durante muito tempo.
o ano passado, por esta altura, sentei-o ao meu lado a dizer estas palavras, este ano vou rebuscar umas quantas dele também:
Não precisa fazer lista de boas intenções para arquivá-las na gaveta. Não precisa chorar arrependido pelas besteiras consumadas nem parvamente acreditar que por decreto de esperança a partir de janeiro as coisas mudem e seja tudo claridade, recompensa, justiça entre os homens e as nações, liberdade com cheiro e gosto de pão matinal, direitos respeitados, começando pelo direito augusto de viver.
Para ganhar um Ano Novo que mereça este nome, você, meu caro, tem de merecê-lo, tem de fazê-lo novo, eu sei que não é fácil, mas tente, experimente, consciente.