10.12.10

Acho que nunca estive tão perto de desistir de tudo. As coisas desmoronam-se à minha volta como torrões de areia, por falta de cuidado meu. O que é realmente importante mistura-se com o que é superflúo, mas tudo rui. Sem piedade, o mundo está a julgar-me pelos meus actos, cruamente, violentamente. E eu já não consigo reagir de outra forma que não passivamente. Como o enforcado que já sente o nó a forçar a traqueia, mas insiste em olhar uma vez mais o horizonte e pensar noutra coisa (o sol que aquece a pele, a brisa que refresca, o mel na língua, a noite na areia da praia). Só quero pensar noutra coisa. Ver o mundo a ruir à minha volta, mas pensar noutra coisa. Ver os gritos, ver a raiva da mesma forma que vejo o desprezo, a indiferença, as pessoas feridas por mim, os olhos baixos. Olhar tudo com o mesmo olhar perdido noutra coisa. Não encontro força em mim para outra reacção que não esta. Estou finalmente exausto.

Avisou ele antes de fugir e deixar tudo.

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