12.10.07

Fios

Como é que as pessoas se ligam umas às outras? Amigos, amantes, família, há toda uma rede de ligações mais ou menos perigosas, mais ou menos intensas que acabam por tecer uma teia densa e quase indelével à nossa volta. Enquanto estamos distraídos a olhar para dentro nem notamos que um autêntico casulo se formou à nossa volta e todas as outras pessoas (aquelas que importam) estão do lado de fora.

Penso: a maior parte das pessoas vive assim a vida toda: com um emaranhado de fios à frente. Ligações antigas, ligações novas, ligações de sempre, todas se cruzam indiscriminadamente e já não sabemos qual o fio que devemos preservar com mais carinho, qual aquele que devemos romper o quanto antes. São todos iguais. E a vista para fora do casulo torna-se cada vez mais turva. Que fazer quando a emergência de salvar um dos fios surge? Como encontrar o fio que está tão frágil que precisa de ser reforçado, cuidado, acarinhado? Qual deles é? E a fonte não é nítida... Queremos olhar para fora do casulo, reconhecer o olhar que sabemos estar do outro lado, mas esta cegueira é a mais incapacitante de todas. O que resta?

Romper com todos os fios! Há que buscar forças e com uma implusão de revolta destruir este casulo com demasiados fios. Estalar todos eles de um só respiro. E depois? Reconstruir. Remendá-los. Um a um, aqueles que realmente te pertencem. Mas desta vez olhar e pegar em cada fio cuidadosamente e dar-lhe um lugar. Hão-de resistir. Hão-de até ficar mais fortes.

5 comentários:

ML disse...

É uma alegoria interessante, mas eu acho que dentro dessa densidade há uns fios que se destacam mais que outros. Eles não são todos iguais: inevitavelmente, uns estão mais perto do centro do casulo, e os outros, de tão afastados que estão, já só resta a ténue memória do fio, tão ténue que este é menos visto que imaginado - e, às vezes, a emergência de os salvar é apenas a consciência de quem não o soube conservar no seu tempo. E aí teremos de estar preparados para, na bidireccionalidade dos fios, estes não se reatarem. É a vida.

Anónimo disse...

romper os fios é infinitamente doloroso...

Betty Coltrane disse...

Eu construí a minha teia cuidadosamente, num círculo organizado.. por vezes há fios que saem do lugar, mas depressa se lida com isso. Cortá-los? fui obrigada a fazê-lo há anos, numa idade em que não deveria sequer passar por isso. mas agora tenho uma teia redondinha.... =)

beijoca!

CP disse...

os fios não são todos da mesma cor. Pronto. Problem solved!

ML disse...

Racista