19.9.08

Cede-se

Olhar nos olhos das pessoas que passam comove, elas não estão habituadas e comovem-se também. Comove de igual forma ler algumas crónicas de Lobo Antunes no metro, onde a solidão se encosta a nós no banco do lado, a espreitar o que lemos, indiscreta. Comovo-me com pouco nestes dias porque o mundo todo parece estar à beira das lágrimas; parece estar na prolongada iminência do soluço fundo que antecede o pranto. No caminho que faço todos os dias o andar é compassado com um adagio cantado pelas gaivotas, pelo marejar dos barcos, pelo roçagar dos transeutes uns nos outros, pelo café a fumegar das máquinas, pelo fumo soprado para a atmosfera por lábios que nunca se encontraram. Nestes dias chego ao fim do dia em pequenos fiapos, com vontade de chorar a tristeza que sinto. Mas a tristeza não é minha, não me é de direito chorá-la. Alguém a quer?

Eu não devia te dizer
mas essa lua
mas esse conhaque

botam a gente comovido como o diabo.


2 comentários:

M. disse...

ouvi esta semana uma música cuja letra era : quem tem medo do lobo antunes devia ter temor a Deus.


sinto-me como tu descreves ( e bem)
o metro é dos sítios onde paira mais solidão.

Maria del Sol disse...

O pior é que a tristeza empestada pode assolar-nos já bem longe dos transportes públicos, em sítios onde pensávamos estar sãos e salvos... anda por aí, saltando de pele em pele como um parasita.

(E concordo com a M., captaste na perfeição a angústia dessa solidão no meio da multidão)