24.3.09

Vertigem

Viajamos num balão de ar quente. A viagem já começou há tanto tempo e ainda estamos presos à vertigem de olhar para baixo, da proximidade das nuvens. Ainda rodamos à procura de novas perspectivas, mas quase não há alterações em qualquer dos ângulos. Viajamos no balão de ar quente juntos e quase não olhámos um para o outro. Quase não nos apercebemos de que estamos tão próximos e tão sozinhos. Viajamos com a cabeça pendurada para fora quando devíamos olharmo-nos nos olhos e sentir a viagem juntos. Quando começou a viagem? Não sei. Já perdi a referência de tempo e de espaço. O sol vai circulando, a lua também. A paisagem vai mudando. Rios, montanhas, mar, sereias, serras, vales, abismos, monstros, sonhos, campos, estradas que desprezamos por não precisarmos delas. Estamos no ar, a viajar num balão de ar quente e nem reparei se te comoveste quando subimos, voamos juntos e nem reparaste se estou com medo de cair. Quero olhar para ti mas a vertigem atrai-me. Não consigo desviar os olhos incrédulos da distância do chão, da imagem do meu corpo a esmagar-se violentamente contra o solo, do som do teu grito terrível, da sensação dos meus ossos a estilhaçarem-se como vidro. E a viagem continua.


Sem comentários: