29.4.09

dans paris

Depois de rever de battre mon coeur s'est arrêté quero (re)ver este. mais do que os realizadores, os actores são as minhas meadas nas escolhas cinéfilas. tento não as perder.

23.4.09

JP

só gosto tanto dele porque ele tem tanto de ti.

Estatelou-se docemente contra o céu*

A minha geração, já se calou, já se perdeu, já amuou,
já se cansou, desapareceu, ou então casou, ou então mudou
ou então morreu: já se acabou.

A minha geração de hedonistas e de ateus, de anti-clubistas,
de anarquistas, deprimidos e de artistas e de autistas
estatelou-se docemente contra o céu.

A minha geração ironizou o coração, alimentou a confusão
brincou às mil revoluções amando gestos e protestos e canções,
pelo seu estilo controverso.

A minha geração, só se comove com excessos, com hecatombes,
com acessos de bruta cólera, de morte, de miséria, de mentiras,
de reflexos da sua funda castração.

A minha geração é a herdeira do silêncio,
dos grandes paizinhos do céu,
da indecência, do abuso.
E um belo dia fez-se à vida,na cegueira do comércio

A minha geração é toda a minha solidão,
é flor da ausência, sonho vão,
aparição, presságio, fogo de artifício, toda vício, toda boca
e pouca coisa na mão.


A minha geração não é esta. Mas não a descreveria melhor. Afinal todos os pós-25-de-Abril-antes-de-qualquer-outra-coisa-melhor se definem pelas mesmas linhas.

Somos a geração que se pensa. Não pensamos em política, as lutas terminaram, tudo se faz agora não pelo punho, mas pela letra. Não havendo por que lutar olhamo-nos ao espelho e vemo-nos vazios. Anulámo-nos. Porque, no fundo, o Miguel Guilherme é que tinha razão quando, com a G3 às costas e uma linha de combate no horizonte, afirmou: o homem foi feito para guerrear. Para matar.

Tudo o resto dá em suicídio. Quer te mates quer não.

*e este verso toca o Belo absoluto. a lembrar as câmaras lentas dos filmes orientais em que heróis perfeitos esvoaçam pelas florestas

20.4.09

fraquezas

(aumentem, por favor, que isto não é nada)


A julgar pelas réplicas que recebo quando falo no assunto, percebo que isto é uma fraqueza.

Gostar de x-men não é socialmente aceitável, principalmente quando: a) já ultrapassaste os 25; b) sabes ler e escrever; c) não grunhes quando tentam comunicar contigo.

Como considero que me estou a cagar para o socialmente aceite, tenho a declarar que o Wolverine é e será sempre o meu herói. Não me venham com merdas!

Posso gostar dele e do Tabucchi, que o meu cérebro não entra em colapso

.

19.4.09

Tabucchi e eu

Lisboa aparece-me debaixo dos passos. É mais um daqueles sonhos em que ando incansavelmente. Percorro ruas que conheço bem, mas que ali não sei aonde vão dar. Lisboa é, na maior parte das vezes, o cenário. Já cirandei pelo Porto, também. A conseguir controlar estes percursos oníricos, daria a volta ao mundo em sensivelmente 80 sonhos, a julgar pela velocidade de cada um. Isto de andar a reler os sonhos dos outros, esta ideia admirável do Tabucchi, fez-me sonhar com os outros sonhos dos outros. O sonho de Fernando Pessoa jogava com a sua heteronímia e o de Toulouse Lautrec com o Moulin Rouge e a utopia da beleza. O que seria o meu sonho descrito pelo Tabucchi? Não sou ninguém. Não tenho nenhum traço que as pessoas possam identificar. Seria talvez em Lisboa, como este está a ser. Estou na rua de São Bento, desço pelo Passos Manuel e vou dar à Calçada do Combro. Compro um livro na livraria brasileira e pago com um botão que se descosera do casaco. O Tabucchi bem me segue, com um bloquinho em riste, mas ainda não encontrou nada que valesse a pena. Sinto-me pressionada, terei de fazer uma pirueta ou escrever um livro de pé enconstada a uma cómoda. Onde vou encontrar uma cómoda a estas horas no Chiado? Sim, já chegámos ao Chiado. Sento-me com Pessoa. Não suporto estar aqui, resmunga. Deixa-te estar, ao menos o Tabucchi já escreveu o teu sonho. Penso: isto tem de dar uma reviravolta, não posso só andar aqui de um lado para o outro. Levanto-me de repente da mesa e, quando olho para os pés, a terra treme e percebo que estou em 1 de Novembro de 1755. O Fernando levantou-se primeiro do que eu e já ía a correr em direcção ao Cais do Sodré, mas depois percebeu que vinha um tsunami e vejo-o a correr pela Trindade acima. Receio ter escolhido um cenário demasiado catastrófico, não há sinal do meu persecutor. Ando calmamente entre as gentes em pânico, até porque isto é um sonho, não há propriamente risco de morte, e gozo este poder estranho. As pessoas não reparam em mim, provavelmente serei invisível neste corpo só metafísico. Mas duvido logo quando me sinto sacudida por alguém: é o Tabucchi, e tem a boina torta e o pouco cabelo desgrenhado, o que me aflige. Estás louca? Porque é que nos trouxeste para aqui? Vamos morrer! Não, isto é só um sonho. Vim para aqui, achei que era mais interessante que vadiar pelo Chiado no séc. XXI. Isto não é um sonho, além disso já perdi a caneta e o bloco, já não posso escrever mais nada sobre ti. Já tinhas escrito alguma coisa? Claro, já estava praticamente no fim, um dos mais brilhantes sonhos alheios que já escrevi.

E pronto. Os meus sonhos, como quase tudo na minha vida, correm sempre mal por alguma má decisão que tomei, precipitada, pelo caminho.