já se cansou, desapareceu, ou então casou, ou então mudou
ou então morreu: já se acabou.
A minha geração de hedonistas e de ateus, de anti-clubistas,
de anarquistas, deprimidos e de artistas e de autistas
estatelou-se docemente contra o céu.
A minha geração ironizou o coração, alimentou a confusão
brincou às mil revoluções amando gestos e protestos e canções,
pelo seu estilo controverso.
A minha geração, só se comove com excessos, com hecatombes,
com acessos de bruta cólera, de morte, de miséria, de mentiras,
de reflexos da sua funda castração.
A minha geração é a herdeira do silêncio,
dos grandes paizinhos do céu,
da indecência, do abuso.
E um belo dia fez-se à vida,na cegueira do comércio
A minha geração é toda a minha solidão,
é flor da ausência, sonho vão,
aparição, presságio, fogo de artifício, toda vício, toda boca
e pouca coisa na mão.
A minha geração não é esta. Mas não a descreveria melhor. Afinal todos os pós-25-de-Abril-antes-de-qualquer-outra-coisa-melhor se definem pelas mesmas linhas.
Somos a geração que se pensa. Não pensamos em política, as lutas terminaram, tudo se faz agora não pelo punho, mas pela letra. Não havendo por que lutar olhamo-nos ao espelho e vemo-nos vazios. Anulámo-nos. Porque, no fundo, o Miguel Guilherme é que tinha razão quando, com a G3 às costas e uma linha de combate no horizonte, afirmou: o homem foi feito para guerrear. Para matar.
Tudo o resto dá em suicídio. Quer te mates quer não.
*e este verso toca o Belo absoluto. a lembrar as câmaras lentas dos filmes orientais em que heróis perfeitos esvoaçam pelas florestas
2 comentários:
Subscrevo todas as reflexões e acrescento que me soube mesmo muito bem voltar a ouvir esta canção ao vivo, na semana passada. Já tinha saudades de ver o JP em palco.
"Tudo o resto dá em suicídio. Quer te mates quer não."... e este verso também merece asterisco.
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