Desde que li na Uncut (por conselho alheio, que não é periódico da minha lide habitual) uma entrevista ao David Lynch e ao Mark Frost a propósito da genial criatura que ambos pariram: Twin Peaks, em que admitiam a possibilidade de a misteriosa Laura Palmer ser inspirada na não menos indecifrável Marilyn Monroe, desde esse momento que a minha cabeça anda a mil! Não que eu andasse a ler tudo o que o Lynch alguma vez tenha dito sobre a série, à procura de respostas, mas, ainda que desatenta, a verdade é que nunca me tinha chegado nada que me ajudasse a compreender (melhor) a Laura Palmer. Quando li as tais palavras, e cito: The "other thing" [Twin Peaks] had one or two aspects in common with Godess*, not least a doomed blonde fated to die at the hands of duplicitous characters, algo aconteceu. Parte do meu imaginário, a parte que é habitada pelo Bob, pela Laura, pelo Leland, pelo cheiro matinal de tarte e café no Double R, entre outros pormenores estruturantes da pessoa que sou hoje, estremeceu. It can't get more from the guts, i tell you. Não é nada de muito inteligível o que tenho para dizer sobre isto. Aliás o que tenho para dizer é isto: percebi, com estas sábias mas quase triviais palavras do Lynch, que, para mim, a Marilyn e a Laura são manifestações da mesmíssima complexa, angustiada, perturbada e múltipla pessoa ... e eu nunca me tinha lembrado disso. Foda-se.
*uma biografia de Marilyn por Anthony Summers.
....she is filled with secrets...
1 comentário:
Monroe + Twin Peaks? Quem sequer os admitiria na mesma frase?
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