A propósito do lançamento do seu mais recente álbum Vôo nocturno, fui rebuscar aquele Jorge Palma antiguinho, dos anos oitenta, quando as suas letras eram inovadoras e as suas músicas surpreendentes. Quando ainda não havia ninguém que dissesse tão bem em português a alma crua e sempre um pouco nua, com um tom toldado de Johnny Walker. Sempre gostei e ainda gosto muito do Palma, apesar de ainda não ter ouvido o seu novo trabalho, de qualquer forma, temo que sempre ficarei agarrada à imagem já quase cliché do Jorge sozinho no palco, inclinado sobre o piano, com a garrafa de whisky à frente a recitar aquelas métricas impossíveis que se entranharam na memória de qualquer um que se tenha sentado a ouvi-lo.
A gente já não sabe o que há-de fazer com a lua
Gerou-se um curto-circuito no canal telepático
E a caverna clandestina por detrás da cascata
Onde os amantes se entregavam à eternidade
Hoje não passa dum moderno armazém de sucata
Existem mil produtos para encher o vazio
Criámos computadores para ampliar a memória
E todos nós temos disfarces para aumentar a confusão
Só não sabemos como fazer o amor durar
O grande enigma continua a dar-nos cabo do coração
"Olá, a que horas parte o teu comboio?
O meu é às cinco e trinta e três
Ainda falta um bom bocado,
Queres contar-me a tua história?
Espera, deixa-me adivinhar,
Vais recomeçar noutro lado...
Trazes escrito na bagagem
Que a coisa aqui não deu...
Quanto a mim, também me sinto um pouco desenraízado... "
Também o amor se adapta às leis da economia
Investe-se a curto prazo e reduz-se a energia
E quando o barco vai ao fundo ninguém quer ser culpado
Mas nunca é tarde para se ter uma infância feliz
O cavaleiro solitário ainda sonha acordado.
Nunca é tarde para se ter uma infância feliz
O lado errado da noite, 1985.
2 comentários:
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é um génio. e como quase todas essas personagens ama-se ou odeia-se. eu confesso que estou num meio termo: n adoro, julgo q por desconhecimento, mas reconheço-lhe um enorme talento. espero um dia poder vê-lo ao vivo.
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