25.7.07

É p'ra amanhã, bem podias fazer hoje...

A melhor sensação que alguém poderá ter será, certamente, a de alívio, de dever cumprido. Seja ele um alívio fisiológico, uma tarefa terminada, um amigo reconfortado, desapertar o soutien ao fim do dia ou uma tese de mestrado terminada, não interessa, é o melhor que se pode ter.


A expressão facial é mais ou menos eufórica conforme a situação, mas o sentimento cá dentro é o mesmo: Já está! Não preciso mais de me preocupar com isto! Está resolvido! O que eu gostava de poder dizer isto... Neste momento sinto-me como um alcóolico a sonhar com a cura, dentro de uma loja de bebidas: "Como eu gostava, mas..." e tufa, lá vai mais uma garrafa debaixo do braço, e atiro resignada para "amanhã" essa almejada utopia.


Como o meu fígado não se ressente se eu adiar eternamente uma tarefa, desconfio que não haverá nada mais, além da minha consciência, para me levar a atingir o desejado. Maldita consciência. Nunca confiei muito nela. Dizem que as pessoas mudam (mentira descomunal!), mas nunca ouvi tal coisa acerca das consciências...


Resta-me a religião. Dizem que é para onde nos viramos quando tudo o resto não funciona. Nao faz muito sentido, pois não? Estou cheia de problemas por resolver, não encontro soluções, então vou acreditar piamente em alguma força superior a quem possa entregar as responsabilidades e a minha sorte, pronto. Tenho muitas por onde escolher. Vou investigar e averiguar qual será a mais eficiente no que diz respeito a incitar o crente a trabalhar, abandonar o ócio, rever as prioridades e finalmente tirar pesos dos ombros... humm... assim de repente nada me ocorre. Sugestões aceitam-se.


Entretanto, o Variações é que sabe.

É p'ra amanhã
Bem podias fazer hoje
Porque amanhã sei que voltas a adiar
E tu bem sabes como o tempo foge
Mas nada fazes para o agarrar

Foi mais um dia e tu nada fizeste
Um dia a mais tu pensas que nao faz mal
Vem outro dia e tudo se repete
E vais deixando ficar tudo igual

É p'ra amanha
Bem podias viver hoje
Porque amanhã quem sabe se vais cá estar
Ai tu bem sabes como a vida foge
Mesmo que penses que está p'ra durar

Foi mais um dia e tu nada viveste
Deixas passar os dias sempre iguais
Quando pensares no tempo que perdeste
Então tu queres mas é tarde demais

É p'ra amanhã
Deixa lá não faças hoje
Porque amanhã tudo se há-de arranjar
Ai tu bem sabes que o trabalho foge
Mesmo de quem diz que quer trabalhar

Eu sei que tu andas a procurar
Esse lugar que acerte bem contigo
Do que aparece não consegues gostar
E do que gostas já esta preenchido

7 comentários:

querercoisasimpossiveis disse...

Há sempre uma solução: faz tudo como se fosse para ontem. Eu já fiz isso, e é uma correria desenfreada.É que esta vida não nos dá descanso! No entanto, é sempre melhor viver a 100 à hora, do que andar a 20 a atrapalhar o trânsito, a parar em todas as passadeiras e todos os laranjas.
Deixar para amanhã é sempre o mais fácil, por isso é que quase todos nós caímos nesse erro tão frequentemente.

"Tired of lying in the sunshine staying home to watch the rain,
You are young and life is long and there is time to kill today,
And then one day you find ten years have got behind you,
No one told you when to run, you missed the starting gun"

ROGER WATERS

Anónimo disse...

em primeiro lugar, o variações era um génio, essa canção é perfeita quer em termos d poema quer em termos de melodia. e aplica-se tanti a mim por vezes...

concordo plenamente contigo. a sensação de dever cumprido (a passagem no exame d condução, a conclusão de mais um ano lectivo, etc) é uma das melhores que se pode ter mas para lá se chegar é preciso mta força de vontade e muita persistência.
só me resta desejar força nisso! :)

Cataclismo Cerebral disse...

Também adoro a canção, é perfeita :) Quanto ao descanso mental após se terminar algo, é uma óptima sensação. Mas os bad times também fazem parte do "jogo da vida" (por exemplo os momentos de inquietação e hesitação). As palavras chave são mesmo a perseverança e paciência...

CP disse...

segundo me disseram, os deuses ajudam a quem se ajuda a si. Ou seja, do nada, nada vem. Ou o nada nadifica ou algo assim, já não me lembro bem. :P

Ah! E a sorte favorece os audazes!

Maria del Sol disse...

Das coisas mais irritantes que parecem vir no "pacote" da natureza humana é esta tendência irracional para adiar... porque será que insistimos em prolongar a apatia atormentada de quem vê os prazos aproximar-se ao cansaço reconfortante do dever cumprido? Uso o plural porque obviamente me incluo neste grupo e, na minha ingenuidade, pensava poder corrigir esta característica ao longo da licenciatura. Apesar de a ter frequentado com muito prazer, a aprendizagem principal que dela extraio,agora que acabei, é que sei que nunca serei suficientemente metódica para evitar adiar o inadiável... e toda esta verborreia narcísica serve para concluir que o senhor Variações é um génio por conseguir plasmar numa canção tão simples quanto pertinente este dilema que nos persegue ;)

ML disse...

Recomendo vivamente o Islamismo. Pode não te ajudar em nada com a tese, mas ao menos as virgens estão lá à espera no fim de tudo =)

ML

Daniel disse...

Variações é o Dalí da Pop Portuguesa. E ninguém me tira da ideia que os 80's em Portugal foram os melhores. América e Inglaterra, roam-se de inveja. Portugal tem essa grande coisa indefinível, um sentimento estranho, que é o de querer adiar para um dia melhor o que se tentou hoje e não se conseguiu. Porque o português sabe que haverá um dia melhor. Ou então porque o português sabe que já houve um tempo em que os dias eram melhores. Ou porque o português só vive o sonho, e pelo sonho tudo é melhor. Ou porque o português foi um bicho seleccionado evolutivamente ao longo das eras pela sua capacidade em arranjar maneiras para não trabalhar. Longe de racionalismos cartesianos, longe de socialismos sartrianos, longe de mecanismos anglo-saxónicos, e sobretudo longe das quimeras idealistas germânicas. O único problema do português, que nem problema se pode chamar, é o sonhar muito mais do que aquilo que faz. Mas como é o sonhar que faz andar o mundo para a frente, onde é que está o problema?