O caminho para casa pode ser sempre o mesmo. Aliás, é sempre o mesmo. As mesmas ruas, os mesmos prédios, os mesmos cafés, até os mesmos rostos. Tudo já se afundou numa rotina tão profunda que arrancar daí seria uma tarefa de carne e sangue. Não quero arrancar nada. Quero e preciso da rotina. É no caminho para casa que a minha vida se endireita, que os fios se realinham no lugar próprio, que a poeira pousa. À medida que a estrada desaparece debaixo do meu carro, as horas passadas do meu dia diluem-se no asfalto e dão lugar a novos tempos. Horas por gastar. Por viver.
Se por acaso um dia optasse por um caminho diferente a novidade distrair-me-ía desta tão querida introspecção e realinhamento interior e o meu amanhã nasceria em caos.
Mas os imprevistos acontecem e hoje o meu caminho para casa estava cortado. Tinha de optar por outro. Decisão difícil. Não. Decisão impossível. Não quero optar por outro. Quero ir por aqui. Este é o meu caminho. Mas, minha senhora, a estrada está cortada, não pode. Tenho de poder. Tenho de ir por aqui, não percebe? Não vai ser possível. Como não? Posso ao menos ir a pé? Sim, penso que sim, mas...
Só espero que o carro esteja no mesmo sítio amanhã e que as minhas pernas não me doam insuportavelmente.
3 comentários:
eu cá tb sou uma pessoa mt dada àquela rotina que nos deixa a cabeça livre para poder voar.
e quando as coisas mudam é sempre mt complicado.
Também valorizo os tempos ditos "mortos" da rotina. Só com eles consigo apaziguar e arrumar a cabeça. Boa lembrança :)
Foste sempre pela mesma estrada? E doeram-te as pernas? Talvez a dor das pernas tenha sido compensada pelo alívio da alma...
Eu adoro percorrer caminhos diferentes, o desconhecido fascina-me e as rotinas fazem-me mal. Beijo
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