25.2.08

hoje não


uma menina levada pela mão da mãe, fixa-me de uma forma que me incomoda. demasiado séria para uma criança, demasiado triste. a mãe pára no quiosque e faz conversa com a vendedora. a menina continua a fixar-me, como se a minha presença ali, naquela esplanada, a intrigasse. como se o cigarro na minha mão fosse um estranho dispositivo e o jornal à minha frente uma bomba relógio pronta a explodir. olhava-me com pena, como se não quisesse que eu fizesse a bomba explodir. por favor. como se estivesse a mendigar a sua vida e a das outras pessoas que nos rodeavam. baixei a cabeça. como renunciar a um pedido tão sincero, tão terno? levantei os olhos e a sua expressão era como uma carícia da sua mão infantil no meu rosto áspero. apaguei o cigarro, levantei-me e deixei a bomba em cima da mesa a pulsar uma explosão eminente. que outra pessoa mais corajosa desafie o olhar daquela menina e faça explodir o mundo por mim. hoje não consigo.

2 comentários:

CP disse...

!!BOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOM!!

Rosa disse...

obrigada pela ajuda CP.