As pessoas que vejo todos os dias começam a colar-se às paredes, às portas a fundir-se com as janelas, com as secretárias, a desaparecer por trás dos monitores, das fotocopiadoras. Fazem parte de um quotidiano leitoso e ensimesmado. Começo a não conseguir identificá-las quando penso em retrospectiva o dia de trabalho. Estar com elas ou sozinha é rigorosamente o mesmo, com uma diferença: estava melhor sozinha. Valem-me pequenos momentos de júbilo quando tenho oportunidade de desenjaular um comentário sarcástico e olhos boquiabertos se voltam em uníssono. Desculpa? E, calada, volto ao meu teclado, aos meus papéis, à minha solidão tão arduamente tecida em volta de mim.
2 comentários:
leitor assíduo de blogues (e do teu, desde que o descobri quando estava nos moors do Yorkshire), é muito raro deixar a minha peugada nas caixas de comentários. mas é bom acordar pela manhã e descobrir este teu caderno virtual.
tudo isto para dizer que conheço bem essa estranheza do «quotidiano leitoso» em dois anos e meio de trabalho administrativo. o que nos salva é bater as asas (como os fugitivos e jamais como o Gregory Samsa) e voar para aqui ou para outro lado. o que nos salva são as palavras e os cheiros.
vou continuar por aqui, no silêncio de quem te lê com atenção.
enquanto vai uma boca do tipo ainda vai escapando.
o pior é quando farta de tudo se dá um murro na secretária e se ameaça sair disparada porta fora...
parece que só aí é que dão o valor devido ao que têm!!!
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