30.4.08

Heartattack and vine ou...

...If you want a taste of madness, you have to wait in line.

Se este senhor abrisse um cabaret com este nome, eu seria uma bailarina cancan chamada Jersey.

29.4.08

wrong perspective


(foi amor à primeira vista, eu e o Tiny. desconfio que ele já cá morava secretamente, debaixo da minha almofada.)

28.4.08

Janis Joplin - Cry Baby

(hoje apetecia-me conseguir gritar assim a minha vontade. dar tudo de mim num só fôlego. e, no final, entregar os braços às asas de pássaros marítimos.)

24.4.08

João Portugal Ramos...


... O fim de semana vai ser passado com ele. Sempre boa companhia, sempre leal, sempre estimulante. Sem desilusões, sem arrependimentos na manhã seguinte. Já nos conhecemos bem.

(este dia cheio de sol trouxe-me à pele os idos verões da faculdade, em que facilmente optava pelo caminho da praia em vez do caminho para a cidade universitária. Liberdade de escolha. Liberdade. Coisa perdida nestes dias.)

23.4.08

Cate

(Tem a graciosidade e o charme de uma estrela da golden era de hollywood. Alguns discretos defeitos que seduzem, atrevidos. Uma voz quente e grave que hipnotiza. Além de tudo, sabe de facto representar. Dá vontade de levar para casa, não dá? Sentá-la no sofá, conversar com ela, servir-lhe Vila Santa e, no final da noite, a surpresa de um segredo revelado... Com jeito, ainda sonho isto tudo hoje)

22.4.08

Natalie


(Há filmes que vi só porque o nome dela estava no elenco. Mesmo não tendo gostado de alguns, ela nunca me desapontou. Se isto fosse o correio do leitor da Maria, retirava-me deixando a questão: serei lésbica? Ainda bem que não é. Detesto dúvidas existenciais.)

Bolor

Tenho a mania das velharias. Muitas vezes dou por mim a rebuscar o passado por coisas que me fizeram feliz na altura. Não faz qualquer sentido, o passado não existe. Eu já não sou a pessoa que fui, no entanto, agora apanho-me nesse equívoco. Vou, por exemplo, procurar um filme que gostei de ver há 10 anos atrás e o mais provável é que já não me identifique minimamente com ele, porém, apenas o visionamento da capa, o relembrar de algumas cenas aquece-me por dentro. A verdade é que estou insatisfeita com a pessoa que sou hoje (com o que faço dos meus dias, pelo menos) e isso catapulta-me para o que fui. O pior é que a catapulta nunca foi um instrumento de precisão e acabo por ter uma aterragem desastrada, num momento indesejado.

Que estupidez! Sou uma vítima da nostalgia, da mais bolorenta e sensaborona nostalgia.

21.4.08

Hound Dog

(às vezes apetece-me disparar, sem piedade ou cuidado, o que as pessoas realmente são. E, em vez de esperar uma incrédula resposta, oferecer a imagem curvilínea das minhas costas. You ain't no friend of mine.)

17.4.08

Livre arbítrio

Vou chegar a casa e fazer a mala. Juntar apenas o que é indispensável à sobrevivência, não há espaço nem tempo para mais. Olhar todas as divisões e escolher um ou dois objectos para me lembrar do que fui. Deixar o resto a preencher as prateleiras, as paredes, os cantos. A casa vai ficar imóvel e silenciosa como outro dia qualquer antes de eu chegar. Desta vez não vou seguir o trilho já demarcado dos meus passos rotineiros. Vou cortar por um atalho novo, sem trilho, sem estrada, sem sentido, sem direcção. Posso seguir qualquer ponto cardeal que asas me crescerão nos braços, barbatanas entre os dedos, guelras por pulmões, tudo o que for preciso para chegar onde quero. As possibilidades que tomam forma na mente são as mesmas que tenho nas mãos. É só escolher.

The great escape - Marillion

16.4.08

Pina

(trazer no gesto, dóceis, os movimentos mais selvagens)

Aracne

As pessoas que vejo todos os dias começam a colar-se às paredes, às portas a fundir-se com as janelas, com as secretárias, a desaparecer por trás dos monitores, das fotocopiadoras. Fazem parte de um quotidiano leitoso e ensimesmado. Começo a não conseguir identificá-las quando penso em retrospectiva o dia de trabalho. Estar com elas ou sozinha é rigorosamente o mesmo, com uma diferença: estava melhor sozinha. Valem-me pequenos momentos de júbilo quando tenho oportunidade de desenjaular um comentário sarcástico e olhos boquiabertos se voltam em uníssono. Desculpa? E, calada, volto ao meu teclado, aos meus papéis, à minha solidão tão arduamente tecida em volta de mim.

14.4.08

Para ver as meninas



(se eu encontrasse um dia a Marisa, dizia-lhe: canta esta para mim, que morrerei feliz. e morria.)

10.4.08

IV


I ain’t got anything to be scared of. O mundo foi feito à minha medida porque quando olho o horizonte e fecho as mãos em círculo, ele cabe lá, de ponta a ponta dentro das minhas mãos. Acho que funciona da mesma forma com as pessoas, se eu as olhar da perspectiva certa compreendo-as, vejo-as por dentro mais intimamente que qualquer radiologista. Por isso tomo toda a gente por garantida e desprezo-as uma a uma, perdendo o tempo necessário com cada indivíduo. Há desprezo mais letal que outro. Destilo o piorzinho porque sou assim desde que nasci, porque acho que o mundo cabe na minha mão e porque as pessoas são folhas de papel aderente à espera de uma superfície onde se possam colar e envolver. Toda a gente quer gente. Ninguém gosta de estar sozinho e atiram-nos isso à cara todos os dias como o cuspo de um miúdo mal-educado. E quem gosta de se ver ao espelho à noite sozinho, sem o abraço de ninguém, sem a mão de ninguém a fazer desenhos abstractos nas minhas costas? Gosto do eco dos meus passos em casa, da música alta e escolhida por mim, do pacote de cereais aberto há demasiado tempo porque me apeteceu deixar de gostar daquela marca. Gosto do mesmo destinatário em todas e cada uma das cartas, do único par de chinelos à porta, da minha cama que é grande demais para duas pessoas quanto mais para o meu corpo a desenhar arestas nos lençóis. Não tenho que ter medo de nada porque não há nada a temer no mundo. Vivo com a solidão aos pés e a morte ao ouvido. Nada há a temer senão aquele sol radioso com gargalhadas infantis que a vida me atira violentamente contra as persianas fechadas.

Foto: Ana Franco/Olhares

9.4.08

Perfide Manon



Esta interpretação a mim basta-me para compreender a Brigitte, a Jane e outras tantas que se enlaçaram nos braços de Gainsbourg. Apesar de tudo.

8.4.08

IX


Levo-te no bolso na forma de um bombom que me deste. Nem acreditei quando me estendeste a mão e li com muitos vermelhos e dourados: Serenata de Amor. Que foleirice é esta? É foleiro, mas é giro, é kitsch!_ disseste como uma criança que acabava de verbalizar uma palavra nova. Tinhas a mania de seguir as tendências, defeito que te apontava não raras vezes. Sempre estipulei que uma pessoa que se deixa levar por modas não tem a cabeça certa, bem definida, não sabe quem é. Que raio quer dizer kitsch? Nos últimos anos já se vulgarizou, mas naquele dia em que a disseste parecia vir ainda com cheiro a novo, acabado de sair dos escaparates da língua inglesa. Tu também não sabias responder, formulaste uns exemplos pouco coerentes e no final disseste, isto é kitsch. Continuo sem saber, como calculas. Oh, és sempre tão quadrado! E assim terminavas este tipo de conversas, fazendo-me sentir 20 anos mais velho, com um robe de flanela aos quadrados e chinelos acima do meu número. O novo tem um brilho que esmaga qualquer argumento. Apesar da discussão semântica, guardei o bombom da discórdia no bolso com um sorriso agradado. Que fosse a coisa mais foleira ou kitsch, significava que te tinhas lembrado de mim e isso era tudo.


Foto emprestada daqui

7.4.08

Remar

Sigo-te sem olhar para trás, sem deixar pedras a marcar o caminho. Quero que esqueçamos um possível regresso. Somos assim. Não há para onde regressar. A tua revolta é a minha ainda que com cor e gesto diferentes. A tua voz é o meu farol. Guia-me, a noite (a vida) é nossa.