30.11.09

nos anos 20 pousava-se assim. tivesse eu metade do dramatismo do olhar da elinor e seduzia-me ao espelho todas as manhãs. em vez de evitá-lo a todo o custo.

here comes joni again

Às vezes lavramos em terras alheias o nosso sofrimento. Sabem melhor as palavras cuidadas e a voz seráfica da Joni Mitchell para dizer o que aperta as veias e acelera a corrente sanguínea. É uma urgência que não se diz. Fica presa à música certa por finas pinças e cabe a quem sente articulá-la cuidadosamente e compreendê-la, como quem ordena as peças de um puzzle.
Por outro lado, nestes momentos, a rapariga com chapéu-de-chuva é uma personagem que me entra muitas vezes pelas palavras dentro. Intromete-se no que quero dizer e metaforiza-se no que me (co)move. Ela fica ali, sozinha, chapéu aberto contra o céu, desafiando o pior temporal que venha e que a leve em voos de mary poppins pelo mundo fora. Gosto dela pela coragem e pelo círculo fechado que a envolve sempre. Pelo rosto velado e sério, pelos pés juntos e disciplinados. Nunca ninguém entrará naquele círculo e assim ela estará sempre segura, apenas entregue ao vento e à sua vontade que é da mesma madeira que ergue o mundo.

i wish i was her. like she is me.



(e entretanto chega a Joni, a cantar my old man, a tempestade passa e a menina do chapéu-de-chuva não voou)

25.11.09


dark souls need dark songs to live

I can't hold this stateAnymoreUnderstand meAnymoreTo tread this fantasyopenlyWhat have I doneOhthis uncertaintyIs taking me overI can't mould this stageAnymoreRecognize meAnymoreTo tread this fantasyopenlyWhat have I doneOhthis uncertaintyIs taking me overIs taking me overTo tread this fantasyopenlyWhat have I doneOhthis uncertaintyIs taking me overIs taking me overIs taking me overOh It's all overyeahOh
It's
all
over

14.11.09

pergunta-faca

Isto de andar às voltas com o que se passa cá dentro não é saudável de todo, disse o velho sentado no banco à adolescente que lhe propunha um jornal gratuito. Não quer o jornal? perguntou, confusa. Há muitos anos que tento compreender por que razão abandonei os meus objectivos tão cedo, se é que alguma vez me movi com eles no fim da rédea. Talvez até nunca sequer os tenha domesticado. A rapariga hesitou em ir embora ou aceitar o cargo de estranha ouvinte para que tinha sido subitamente eleita. Querer o mundo inteiro por dentro, não é como querer ser médico ou advogado. Não há anos de estudo que se possam estoicamente desfiar até chegar ao título. Não se sabe qual é o caminho, vadia-se na vida e no mundo à espera que a estrada debaixo dos pés se faça andante e nos mostre o que desejamos ver. É duro, é doloroso e deixa um amargo de boca que entra pela língua e emana pelo corpo todo. A rapariga já pousara os jornais e sentava-se lentamente a seu lado. Descobrir cedo que se é um homem sem rumo é triste, principalmente porque a insensatez adolescente ludibria-nos e faz-nos acreditar que não ter rumo é ter todos à disposição. Não é. Quis tudo porque não tinha nada. E continuo sem nada? podias perguntar-me, se pensasses. Tenho isto para te dizer: é alguma coisa. Tenho a voz. Tenho o que trago nas mãos que não é mais que a força que trago nos braços. Essas palavras que trazes aí impressas também dizem isto tudo que eu estou aqui a dizer, não há nada de novo. Pelo menos cá fora, não há nada de novo, mas depois há o cádentro, dentro de cada um, a vida secreta de cada um é um universo paralelo. Essas palavras têm vidas secretas dentro que se translêm quando fechamos o jornal e deixamos dois minutos para pensar naquilo. A rapariga olhava-o sem compreender. Não podes compreender o que te digo, reconheces o som das palavras mas desconheces a lógica que as une. Que não é sintáctica, é vivencial. Contra isso nada se pode. A rapariga baixou os olhos, corada e ainda mais confusa formulou a pergunta possível: nunca foi feliz? O velho olhou-a magoado, levantou-se e foi-se embora. Deixou-a sozinha com a pergunta que tinha tanto de ingénua como de faca afiada. Caminhou com as mãos nos bolsos, cabisbaixo e a desejar nunca mais encontrar ninguém na vida.

7.11.09

you stupid girl

you pretend you're anything, just to be adored.

ou nos anos 90 a shirley chamava as coisas pelos nomes

2.11.09

sing it back

Hoje vestia esta fatiota de pedacinhos de espelho e ía abanar o rabinho a qualquer espelunca que pusesse a Róisín nas colunas. Hoje estou disco.