19.3.08

Cativa


Guardei as melhores memórias, calcei as luvas e levei-te pela mão como um cicerone numa casa de fantasmas. Não gostaste e choraste de raiva pelo chumbo que te atei aos pulsos para impedir que me acenasses a despedida. Querias ir embora e eu não te deixei, eras minha cativa. Contra o céu e as montanhas eras capaz de tudo, porém contra mim ficavas indefesa porque me amavas. O café de todas as manhãs era tomado sem açucar para relembrar que o doce já não existia e que a partir de agora usávamos as mãos nos bolsos e o olhar furtivo na porta em caso de fuga iminente. Não querias ir embora, eras minha cativa. O letreiro a pedir ajuda que os teus olhos desenhavam para onde quer que olhasses começou a não chegar às pessoas. O sol não nasce para ti, a aurora não é para ti, nada no mundo existe para ti. Só eu. Somos nós como sempre fomos e o sempre não acaba nunca. Deixaste a pele em sangue, arranhaste-me o rosto para conseguires esquecê-lo, mas eras tu que agora cuidavas das cicatrizes. Mudas de ideias como quem muda de canal, mas há muito que perdeste o controlo da tua mente. És minha, minha cativa.


(...)

5 comentários:

Lia disse...

"O café de todas as manhãs era tomado sem açucar para relembrar que o doce já não existia (...)"

:)))))))

Anónimo disse...

Lindo. Vim cá ter por avaria numa das hélices do meu aparelho voador e fiquei seduzido. Parabéns.

Se me permites... um beijo. Gostei mesmo.

Anónimo disse...

Don't resist
We shall exist
Until the day I die
Until the day I die

All mine.......
You have to be

luzdalua disse...

Bem, tal como já li, não foi a unica que cá vim ter quase por acaso... mas assim que li, fiquei completamente rendida, está simplesmente lindo, mesmo! Muitos parabéns!;)

Anónimo disse...

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