31.1.08
30.1.08
nostalgia da infância
Acolhida por um sentimento no mínimo nostálgico, dei por mim a rebuscar o youtube por episódios da ana dos cabelos ruivos. Lembro-me dessa altura como quem se lembra de bolos quentes a sair do forno e de banhos longos com gargalhadas infantis e a casa de banho cheia de poças de água e espuma. Hoje sou eu que acelero os banhos, porque já estão a demorar muito tempo. Sou eu que limpo as poças e resmungo entredentes. Naquela altura achava a minha mãe uma chata por fazer isso. Não quero ser chata. Será tarde demais para não querer ser adulta?
Alguém um dia me disse que quando ouve falar de nostalgia de infância leva imediatamente a mão à carteira. Hoje é um desses dias. Não confiem em mim, que eu estou com a cabeça enfiada no baú das recordações.
28.1.08
A propósito
O sérgio faz-me lembrar que gosto de estar apaixonada por quem estou. Que a vida é bonita. E que os amores são o olhar cúmplice no brinde da noite.
A vida que tudo arrasta, arrasta os amores também. Uns dão à costa, exaustos, outros vão mais além, navegadores só solitários dois a dois, heróis sem nome e até por isso heróis.
Os amores são facas de dois gumes têm de um lado a paixão, doutro os ciúmes. São desencantos que vivem encantados como velas que ardem por dois lados.
Aos amores!
Os amores são facas de dois gumes têm de um lado a paixão, doutro os ciúmes. São desencantos que vivem encantados como velas que ardem por dois lados.
Aos amores!
(desordeiros irresistíveis deleituosos entranhantes verdadeiros evitáveis buliçosos como dantes bicolores transgressores impostores cantadores)
Depois da dor, como conservar a inocência? Leia um bom livro, legue as lágrimas à ciência e parta o vidro em caso de necessidade. Deixe o seu coração ir em liberdade.
Brindemos aos amores!
Brindemos aos amores!
(adaptação livre de Aos Amores - Sérgio Godinho)
19.1.08
Inocência
Pra que mentir
se tu ainda não tens
Esse dom de saber iludir?
Pra quê?! Pra que mentir
Se não há necessidade de me trair?
Pra que mentir, se tu ainda não tens
A malícia de toda mulher?
Pra que mentir se eu sei que gostas de outro
Que te diz que não te quer?
Pra que mentir
Tanto assim
Se tu sabes que eu já sei
Que tu não gostas de mim?!
Se tu sabes que eu te quero
Apesar de ser traído
Pelo teu ódio sincero
Ou por teu amor fingido?!
Texto: Noel Rosa
Às vezes olho por cima do ombro ou escuto uma conversa entrelinhas (ou ligo a tv) e pergunto-me com que pedra e com que cal se constróiem as relações nos dias de hoje.
se tu ainda não tens
Esse dom de saber iludir?
Pra quê?! Pra que mentir
Se não há necessidade de me trair?
Pra que mentir, se tu ainda não tens
A malícia de toda mulher?
Pra que mentir se eu sei que gostas de outro
Que te diz que não te quer?
Pra que mentir
Tanto assim
Se tu sabes que eu já sei
Que tu não gostas de mim?!
Se tu sabes que eu te quero
Apesar de ser traído
Pelo teu ódio sincero
Ou por teu amor fingido?!
Texto: Noel Rosa
Foto: aqui
Às vezes olho por cima do ombro ou escuto uma conversa entrelinhas (ou ligo a tv) e pergunto-me com que pedra e com que cal se constróiem as relações nos dias de hoje.
16.1.08
12.1.08
Beauvoir e Sartre
O que seria dos grandes pensadores, poetas e artistas do século XX se vivessem, como nós, num tempo em que não se pode fumar onde se quer?
Penso que a tão conhecida metonímia "cigarro pensativo" seria pobremente substituída por um café pensativo ou até, para os mais saudáveizinhos, por um néctar de manga laranja pensativo.
Alguém já pensou no bem que o esfumaçar cigarros faz à mente humana? Que enegreçam os pulmões, p'lo bem do intelecto!
Penso que a tão conhecida metonímia "cigarro pensativo" seria pobremente substituída por um café pensativo ou até, para os mais saudáveizinhos, por um néctar de manga laranja pensativo.
Alguém já pensou no bem que o esfumaçar cigarros faz à mente humana? Que enegreçam os pulmões, p'lo bem do intelecto!
9.1.08
Pequenos Castigos
Tenho saudades de ir ver um espectáculo de dança. O último que vi, há demasiado tempo, foi da Olga Roriz. Comovi-me. Espantei-me. Deslumbrei-me. Primeira fila, claro, a seguir todos os pormenores dos bailarinos, a ouvir-lhes a respiração, a ver-lhes o suor, a sentir-lhes a rush de estar num palco. Cheguei a sentir até inveja, não do que faziam, mas do que sentiam naquele momento. Tenho saudades. Quando puder, hei-de voltar a vê-los.
Às vezes apercebo-me, com surpresa, de alguns pequenos castigos que aplico a mim própria, inconscientemente. Como por exemplo, esquecer-me do que gosto realmente de fazer. Ou não fazer nada pelos meus sonhos, senão sonhá-los.
6.1.08
Desalinho
Há pessoas que sabem o que querem. Olham para o futuro e vêem um desenho nítido, a cores, com definição digital e som surround. Olham para o presente e têm o asfalto debaixo dos pés, uma estrada sóbria, com as linhas bem definidas, com contraste. Está identificada com um número e por isso perfeitamente individualizada em relação a todas as outras existentes. Ao longo do caminho existem placas acabadas de pintar com hierarquia de importância e instruções precisas: vai por aqui, não vás por ali, abandona isso, agarra aquilo, diz que sim, diz que não e por cima destas sempre uma a indicar em letras garrafais a direcção da Felicidade.
Essas pessoas estão perfeitamente incluídas (ou absorvidas pela) na sociedade: vestem-se como é suposto vestirem-se, dizem o que é suposto dizerem e pensam o que é suposto pensarem. Têm por princípio pensar em e nunca pensar sobre. Pensam em trabalho, na família, nos amigos, na namorada, em sexo, em férias, mas não se conhece nenhum caso de sucesso em que a fronteira tenha sido ultrapassada. O pensar sobre é um crime social porque está perigosamente ligado à mão no queixo, ao raciocínio, ao perceber a ligação entre os acontecimentos, questioná-los. Não se questiona nada quando se está no caminho para a Felicidade: casa e carro a prestações, marido, filhos e um PPR que é só vantagens.
Eu sou uma pessoa que não sabe o que quer. Portanto nada do que disse atrás se aplica à minha realidade. Olho para o futuro e vejo nevoeiro denso, opaco mesmo. Olho para o presente e há poeira num trilho de areia em que há pedra, silva, vala, montanha, vento e tempestade. Tenho a roupa colada a suor e pó ao corpo e os ténis sujos e rasgados.
Nunca vi uma placa. Às vezes tentei, como os antigos, decifrar augúrios divinos no vôo das aves ou nas tripas de um animal atropelado, mas nada de revelador.
As minhas incursões na sociedade têem sido feitas pela porta das traseiras, às escondidas e sem ter bem a certeza se era ali que queria estar. Mas como me vesti do avesso, não consegui permanecer muito tempo sem ser descoberta e expulsa.
Muitas das decisões que tomei na vida foram às cegas e sem saber o que me esperava do outro lado da porta. Às vezes era apenas uma porta pintada na parede, mas eu mesmo assim corria para ela. Tinha esperança até ao último minuto que ela se fizesse porta e se abrisse para mim. Só porque sim. Só pela esperança … Essa, surpreendentemente, nunca desentranhou.
eu não quero estar parado. fico velho. vou marchar até ao fim. isolado. nesta marcha solitária. dou o corpo ao avançar. neste campo aberto ao céu.
ninguém sabe para onde eu vou. ninguém manda em quem eu sou. sem cor nem deus nem fado. eu estou desalinhado.>
Essas pessoas estão perfeitamente incluídas (ou absorvidas pela) na sociedade: vestem-se como é suposto vestirem-se, dizem o que é suposto dizerem e pensam o que é suposto pensarem. Têm por princípio pensar em e nunca pensar sobre. Pensam em trabalho, na família, nos amigos, na namorada, em sexo, em férias, mas não se conhece nenhum caso de sucesso em que a fronteira tenha sido ultrapassada. O pensar sobre é um crime social porque está perigosamente ligado à mão no queixo, ao raciocínio, ao perceber a ligação entre os acontecimentos, questioná-los. Não se questiona nada quando se está no caminho para a Felicidade: casa e carro a prestações, marido, filhos e um PPR que é só vantagens.
Eu sou uma pessoa que não sabe o que quer. Portanto nada do que disse atrás se aplica à minha realidade. Olho para o futuro e vejo nevoeiro denso, opaco mesmo. Olho para o presente e há poeira num trilho de areia em que há pedra, silva, vala, montanha, vento e tempestade. Tenho a roupa colada a suor e pó ao corpo e os ténis sujos e rasgados.
Nunca vi uma placa. Às vezes tentei, como os antigos, decifrar augúrios divinos no vôo das aves ou nas tripas de um animal atropelado, mas nada de revelador.
As minhas incursões na sociedade têem sido feitas pela porta das traseiras, às escondidas e sem ter bem a certeza se era ali que queria estar. Mas como me vesti do avesso, não consegui permanecer muito tempo sem ser descoberta e expulsa.
Muitas das decisões que tomei na vida foram às cegas e sem saber o que me esperava do outro lado da porta. Às vezes era apenas uma porta pintada na parede, mas eu mesmo assim corria para ela. Tinha esperança até ao último minuto que ela se fizesse porta e se abrisse para mim. Só porque sim. Só pela esperança … Essa, surpreendentemente, nunca desentranhou.
eu não quero estar parado. fico velho. vou marchar até ao fim. isolado. nesta marcha solitária. dou o corpo ao avançar. neste campo aberto ao céu.
ninguém sabe para onde eu vou. ninguém manda em quem eu sou. sem cor nem deus nem fado. eu estou desalinhado.>
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