Voltar atrás sempre pareceu uma alternativa, mesmo nunca o sendo realmente. Nunca se pode voltar atrás para o que foi um dia, sem diversos prejuízos e um preço alto a pagar. Não sei porque as pessoas olham tantas vezes para essa porta quando estão numa encruzilhada. Não é uma porta, tem uma parede de cimento por detrás. Imagina. Estás num dos maiores dilemas da tua vida, ou melhor, estás num buraco sem saída, daqueles mesmo lixados, em que não há solução possível… olhas em volta, nada. Só aquela teimosa porta que nem sequer representa uma solução. É preciso ainda estares agarrado a uma juvenil ingenuidade para olhares uma segunda vez, para os mais vividos, é só uma teimosa e sádica presença.
Ok, sabemos que seria muito bom sacudir a poeira, levantarmo-nos do chão e ora vamos lá tentar outra vez que esta correu mal. Como se de um ensaio para uma peça se tratasse, o pessoal engana-se, troca as deixas, muda completamente o rumo da história, mas o encenador está atento e: espera lá! Vamos lá fazer a cena do início. Era um cantinho aconchegante saber que se poderia refazer tudo quando algo corre mal. Mas não. Não há cantinhos, não há refúgios, não há colo! Se fazes merda, ardeu! Vive as consequências, meu amigo, sejam elas quais forem! Ouviste muitas vezes dizer com aquela sabedoria de bolso irritante “quem boa cama faz, nela se deita” e cá está a tua caminha: lençóis do avesso, cobertas a escorregar para os lados, cabeceira… qual cabeceira? Foda-se, esqueci-me que a cama tinha de ter uma cabeceira, agora nem sei para que lado me hei-de deitar. Deita-te nela como conseguires, vais remendando os erros conforme puderes.
E uma ajudinha dos amigos, pode ser? Depende. Quantos amigos tens? O que tens feito pela vossa amizade? Quantos cafés recusaste porque não te apetecia aturar outras pessoas? Todas estas perguntas e mais algumas vão ser gritadas de uma alta tribuna por um juiz louco e vais ser julgado pelas tuas respostas antes da mais leve impressão de qualquer braço estendido de ajuda. Amizade incondicional? Pois claro. Existe sim, na Heidi, na Ana dos Cabelos Ruivos, consta que o Sangoku e o Krilin também gozavam de tal estatuto. Cresce! Os amiguinhos não aparecem para salvar ninguém, isso era nos desenhos animados. Lembras-te? Aquela realidade alternativa em que vivíamos durante algumas horas ao fim da tarde, enquanto durava o Brinca Brincando (que já agora é um dos nomes mais estúpidos e redundantes que o imaginário televisivo conseguiu produzir). Na idade adulta, o conceito de amigo deforma-se, qual sadio Tom Sawyer feito Quasímodo, para ser mais um daqueles irritantes estiletes sociais que te espoletam para a vida, qual menir solitário a aterrar num campo de bárbaros que só te querem foder a vida. Literalmente.
Bem, mas que meada fugidia esta, nem me vou preocupar em tentar apanhá-la, já lá vai longe. Uma pausa agora. Estilo Nescafé. Fim de tarde, praia deserta, sentada no capot do carro, a beber um cafezinho quentinho… I can see clearly now the rain is gone… Bullshit, não é nada disto, vou mas é vegetar em frente à televisão.
1 comentário:
É sempre bom recordar o Johnny Nash (não confundir com Johnny Cash) a cantar o "I can see clearly now", recordar aquele pôr-do-sol do anúncio e claro, a caneca de Nescafé. Deve ser o reclame mais nostálgico da história da televisão.
"Sometimes I get the feelin'
I was back in the old days - long ago.
When we were kids when we were young,
Things seemed so perfect - you know.
The days were endless we were crazy we were young
The sun was always shinin' - we just lived for fun
Sometimes it seems like lately - I just don't know
The rest of my life's been just a show
(...)
You can't turn back the clock, you can't turn back the tide
Ain't that a shame?
I'd like to go back one time on a roller coaster ride,
When life was just a game.
No use in sitting and thinkin' on what you did,
When you can lay back and enjoy it through your kids
Sometimes it seems like lately - I just don't know...
Better sit back and go with the flow."
These are the days of our lives, Queen
Enviar um comentário