27.5.08

26.5.08

Prova viva

Hoje vamos estar com ela no Coliseu. Ansiosos, atentos, apaixonados, deslumbrados. We love you, girl.

Misfits



You have the gift for life, Rosylyn. The rest of us, we're just looking for a place to hide and watch it all go by.



The Misfits, John Houston, 1961

21.5.08

Vermelho...


... inveja, vermelho desejo. A linha que separa é ténue, a vontade de saltar entre um lado e outro, como se de um jogo se tratasse, tem ímpetos de acicate.

A Monica arrasta atrás de si uma sensualidade absolutamente pecaminosa. Tanto que ao representar Madalena redimida, de unhas e cara suja, ninguém poderia deixar de fantasiar o corpo que as vestes largas e esfiapadas escondiam. Penso: com certeza maior tormento terá sentido Jesus ao deixá-la na terra, que ao sentir as chagas abrirem-se na sua carne.



Foto emprestada daqui, sítio cum laude de homenagem ao corpo feminino.

20.5.08


(com este austero chapéu de abas, gravata incisiva e olhar decidido dá vontade de lhe bater continência e esconder o volume das Canções debaixo do casaco, com pudor)

Botto

Ouvi, pela primeira vez, a poesia de António Botto recitada na voz possuída por um deus de Mário Viegas. Era véspera de ano novo e estava com alguns amigos na casa de um deles. O dono do cd era um vizinho que, não querendo passar aquela noite sozinho, veio bater-nos à porta a sugerir um bom vinho tinto e poesia. Para meu mau grado, os presentes aceitaram a sua presença com relutância ("ele é gay, coitado" tive de ouvir entredentes). Por mim, estava deliciada, já que ali, no meio de tantos "amigos", aquela nova proposta pareceu-me desde logo bem mais atractiva para uma noite reveillon. Incitei-o a colocar o cd (e assim livrar-me da banda sonora inexplicavelmente animada, a noite de fim de ano é e sempre será uma noite triste), a abrir a garrafa de vinho tinto, a ignorar as caras de tédio em geral e a falar-me desse tal António Botto. Ao que me lembro, as palavras homossexual, erótico, obsceno e ordinário foram usadas algumas vezes para falar sobre este poeta modernista. Na altura até o achei um pouco balofo, preso ao estigma do homofobismo (que hoje ainda prolifera, quanto mais há 80 anos atrás) e por isso pouco desenvolto na sua vertente literária. No entanto, mais tarde, fazendo ouvidos moucos ao preconceito e à sua orientação sexual (que continuo a não perceber o que tem isso a ver com literatura) li alguns dos seus poemas e outros escritos e pensei: "O Botto tem isto de forte e de firme: é que não dá desculpas. E eu acho, e deverei talvez sempre achar, que não dar desculpas é melhor que ter razão" Ou não. Isto foi o Álvaro de Campos que disse. Mas gostava de ter sido eu.

Essa noite foi há 7 anos, as pessoas que lá estavam já não fazem parte da minha vida há quase tanto tempo. O vizinho do cd na mão e garrafa debaixo do braço, a pessoa mais interessante que lá estava, desapareceu completamente. Eu própria, a que estava lá nessa noite, já não sou eu. E ainda bem. Já me tinha suicidado se fosse.

19.5.08

Innuendo

Enterrei o sonho. Levantei o véu do rosto. Vesti o blog de branco, emagrecido, mas deixei os grafismos a negro, para me lembrar que aquele sonho já não volta. mais.

Faço agora homenagem a quem me matou o sonho. Assassino de causas nobres a quem ensaio vénias em vez de represálias. Afinal, se os sonhos não morrerem, acabam por envelhecer, manquejar, desfigurar e transformar-se em assombrações que nos tiram o sono à noite e o sorriso de dia.



If there's a God or any kind of justice under the sky
If there's a point, if there's a reason to live or die
If there's an answer to the questions we feel bound to ask
Show yourself - destroy our fears - release your mask

16.5.08



Hoje estou de luto.


Morreu-me um sonho.

15.5.08

Títere

Carregar o sonho às costas, irrealizado, é doloroso. Sonhá-lo sempre longe, mas quase a tocar-lhe nos calcanhares. Enjeitar vôos desastrados a querer lá chegar. Cair por terra e lamber a poeira dos lábios como o sabor mais próximo do triunfo. Queremos chegar até ao limite dos nossos tendões, até à mais desequilibrada ponta do pé, mas está sempre demasiado alto. Esgares divinos roubam-no do nosso alcance, apenas para demonstrar a sua superioridade.

Nos dias em que me sinto um mero títere em mãos austeras, apetece-me cortar os fios e morrer.
Só para demonstrar a minha superioridade.





13.5.08

Jean genie, let yourself go *

Jean Seberg (1938-1979)

(a ideia de morrer sozinha no banco de trás de um automóvel entupida em barbitúricos e álcool tem tanto de desesperante como de terrivelmente naïf. a imagem do renault branco abandonado _assim como o seu corpo, lá dentro_ numa qualquer rua de paris, durante 11 dias, chocou-me como poucas. ela saiu de marshalltown para ser alguém, porque era demasiado para aquela terriola, mas chegou ao estrelato e foi demais para esta moça da terriola. onde estará o equilíbrio? onde poderemos viver uma vida em harmonia com o que somos, com o que queremos ser, com o que nos deixam ser? com que cores se pintará o sítio onde não somos julgados por aquilo em que acreditamos e ninguém morre sozinho?)
*David Bowie, Jean genie, 1972

Confissão em tom bowieano

I've nothing much to offer
Theres nothing much to take

I'm an absolute beginner
And I'm absolutely sane

As long as we're together
The rest can go to hell

I a b s o l u t e l y l o v e y o u !

12.5.08

Si ya te ha dado vida, quieres más?

Essencialmente, existiram duas razões pelas quais me deixei encantar pelo filme sobre a vida de Frida Kahlo: uma foi a música da Chavela Vargas, outra foi a loucura da pintora mexicana. Incrível como encontramos, noutras pessoas, refúgio para a nossa loucura, encoberta. Desconcertante como julgamos loucos quem é genuíno e honesto consigo próprio e com os outros e não tem receio de o mostrar. Aquele que diz sempre a verdade é tido como tonto, é o Parvo de Gil Vicente. Único aquele que consegue viver assim, coleccionando rótulos e utilizando-os em composições magníficas longe dos olhares. Essas pessoas são autênticas ilhas, preciosas, por isso raras. A Frida era uma dessas pessoas, mas eu conheço outra. E é minha.

Si porque te quiero quieres, Llorona
Quieres que te quieres más?
Si ya te he dado la vida, Llorona
Qué mas quieres?
Quieres más?

8.5.08

naïf

Segredo-te algumas palavras volatéis ao ouvido e encosto-me ao parapeito da janela a contemplar a tua resposta muda. As maçãs do teu rosto coram apesar da tua vontade. Doce. O sol de agosto aquece-nos as mãos, a claridade do dia semicerra-nos a visão, confere-te uma aura inesperada. Gosto das tardes ociosas e lânguidas, debruçados sobre a vida que temos juntos, sobre o futuro que desenhamos a giz na madeira dos bancos. Segredas-me o teu silêncio e libertas uma gargalhada cristalina. Que todos os dias fossem assim. Prometes? Prometo por tudo o que existe. Tudo, tudo? Tudo vezes mil vezes infinito.

O amor é ingenuidade. O conhecimento e a experiência são as duas irmãs malévolas que obrigam a cinderela a lavar-lhes os pés gordos e mal feitos.
Foto: daqui

6.5.08

Wild is the wind

(love me love me love me, say you do)

Use the Force

Vi, recentemente, toda a famosa saga Star Wars pela primeira vez. Sempre achei que era algo para geeks, que o Darth Vader era rídiculo e os uivos do Chewbacca um mero motivo de chacota. Como estava enganada! Não quero com isto dizer que me tornei uma aficcionada, de todo, não tenho genes de fanática seja do que for. Contudo, gosto de mudar de ideias. É algo que me agrada bastante. Lembro-me, nestas alturas, de um ilustre professor que rejubilava quando sabia que ainda não tínhamos visto um filme ou lido um livro que ele adorava: "Que sorte que vocês têm! Ainda com tanta coisa boa por descobrir." Gostava de ser capaz desta humildade e pedagogia.

Descobri que o Darth Vader é afinal um menino perdido, sozinho, que perdeu a mãe, a namorada e os filhos, assim sem mais nem menos. Já não acho piada à imitação da sua voz ventilada.

Com o Chewie posso continuar a gozar, não me tocou especialmente.