30.6.07

Volta Vitinho!

Aproveito esta minha recente aventura na blogosfera para lançar um repto: onde estão os bonequinhos que nos cantavam uma música de embalar a seguir ao telejornal? O ursinho teddy, o vitinho, os patinhos, até a mascote do continente enjeitou qualquer coisa nesse sentido... Todos perdidos. Já não querem pôr os putos a dormir! Juro que, no meu tempo, resultava. Assim que começava a ouvir aquela musiquinha uma sonolência começava a apoderar-se das minhas pálpebras e já via o Boa noite e Até manhã dos papás do Vitinho com um olhito só. Aquilo é que era manipulação televisiva desinteressada! O facto de o inocente menino de chapéu de palha ser a imagem da Milupa, era pura coincidência!... Pronto, sabemos que não era, mas isso agora não interessa nada, eu, por exemplo nunca troquei o meu Nestum de mel pelo Milupa!


Bom, mas isto para dizer que há uns tempos, nem sequer sei se ainda se mantém, vi a Floribella aos pulos e saltos e gritos e flores e tudo, como só ela sabe, a querer fazer qualquer coisa como o Vitinho fez há uns bons 20 anos. Fiquei chocada! E julgo que também o Vitinho (que entretanto deverá ter crescido e agora é o Sô Vítor, contabilista de renome e consta que sofredor crónico de insónias) deverá resmungar umas obscenidades ao testemunhar tal ofensa. Como é que a rapariga quer pôr alguém a dormir? A meu ver, não estão, de modo nenhum, reunidas as condições mínimas. Aquela agitação toda, como se tivesse um vibrador com pilhas duracell entalado algures, aqueles olhos muito abertos e aquele sotaque do Puorto (carago!) mesmo à peixeira do Bulhon, tudo aquilo põe-me nervosa, credo! Só apetece é dar-lhe uma droga qualquer, por favor acalma-te miúda! Ora o que é que a Sic pensou, vamos pôr a Floribella a cantar umas canções para pôr os putos a dormir! Hã?? Os miúdos vão para a cama com aquela informação toda de cores e flores e gritos e fadinhas e bruxinhas e o raio que a parta... Caros amigos, os pobres meninos, no mínimo, adquirem precocemente o síndrome das pernas inquietas.


Caros senhores que mandam na Sic e na Floribella e na programação em geral: há que voltar à receita antiga. Esqueçam a miúda eléctrica! E os super megas hipers rifixes e coisas demais! Nada como um ambiente calmo, uma voz suave a cantarolar uma melodia de embalar, sem grande alarido, sem grandes mensagens, só mesmo tipo tá na hora de ir para a cama, o dia foi longo, 'bora lá. Confesso mesmo, se vale de alguma coisa, que aquele Boa Noite e Até Amanhã sussurrados pelos pais do Vitinho antes de fechar a porta, ainda hoje me acompanham quando o sono não vem logo. Tenho dito.

27.6.07

Dizer tanto em tão pouco

Eu antes tinha querido ser os outros para conhecer o que não era eu. Entendi então que eu já tinha sido os outros e que isso era fácil. Minha experiêcia maior seria ser o outro dos outros: e o outro dos outros era eu.

Clarice Lispector
A experiência

25.6.07

Mão no queixo: Licenciatura = emprego??!

Afinal o que é preciso fazer para ter um emprego hoje em dia? Por emprego, entenda-se: executar uma função que tenha minimamente a ver com o que andaste a estudar a vida toda, ser justamente pago para isso, ter um contrato que te providencie uma série de regalias que não são mais do que direitos básicos, tipo seguro saúde, férias, segurança na trabalho, etc. Começo a pensar que é uma meta reservada para uma pequena elite escolhida pelos deuses do Olimpo depois de aturada reflexão e demorado sufrágio.

O que acham? Posso dar-vos o meu exemplo pessoal, só para cismarem um pouco sobre o assunto. Até aqui, só porque não quis entrar na carneirada de licenciados em línguas que seguem a carreira de professores de liceu, já trabalhei em três lojas de roupa de senhora (convém salientar o género que atendia, porque as gajas são muito mas muito mais cabras que eles), numa imobiliária, num bar e num escritório (onde desempenhava a desafiante tarefa de introduzir dados num computador). A ordem cronológica não é a apresentada, mas isso também não interessa nada agora.

A par destes eventos, fui seguindo o meu percurso académico, ou seja, terminada a licenciatura, descansei um ano e depois entrei para o mestrado. Teimosa! Um mestrado em Literatura! "Para que é que isso serve?" é a pergunta que oiço mais vezes. Porque a maior parte das pessoas acha que se andámos na faculdade então temos de ser ou médicos ou advogados ou engenheiros ou então professores. Pois. Ainda se aceitam profissões ditas mais "modernas" como jornalista, tradutor ou agente de turismo, mas já se franze o nariz a estas. Quando digo que a maioria das minhas colegas seguiu a carreira de professora e eu optei por não fazê-lo, sou recebida numa hecatombe de espanto: "Não?! Mas porquê? O que é que vais fazer??" Quando digo que gostaria eventualmente de seguir carreira académica respondem-me com um, "ah pois, só se for isso" com um neonizante "Não faço ideia o que isso quer dizer!" escrito na testa. Enfim, já começo a estar habituada.

O pessoal de letras é e sempre foi descriminado, olhado de lado, encarado como os gajos que fugiram à matemática no liceu e pronto. Ainda te podes pôr em pontas dos pés e acenar com uns livritos dizendo que gostas mesmo daquilo, a sério, é mesmo isto que gosto de fazer... Mas não adianta! És arrumado nessa prateleira para sempre, quer caibas, quer não. Por essas e por outras, quando me perguntam que curso tirei, reduzo o extenso e pormenorizado Línguas e Literaturas Modernas, variante em Estudos Portugueses, para um seco: Literatura Portuguesa, ou, para algum público menos exigente, Letras! assim facilito ainda mais o rotulamento e vou direitinha para a prateleira sem mais nem quê.

Assim sendo, concluo amargamente, já praticamente a desfalecer sobre um balcão de um bar qualquer em decadência alcoólica, que: meus queridos amigos, nunca na vida terei um emprego daqueles que descrevi no início. Pelo menos, não por mérito próprio. Já que tenho sempre a alternativa de simplesmente rebaixar-me ao chão que piso e andar ó tio, ó tio, para arranjar um tacho qualquer numa câmara ou noutro organismo estatal qualquer. Mas vamos assumir que tenho como princípio não perder a dignidade. Por enquanto. O desespero um dia pode falar mais alto. Nunca digas desta água não beberei. Pronto, e agora que já salvaguardei qualquer eventual desenvolvimento que a minha vida profissional possa levar, posso despedir-me, com um sorriso no rosto: "Boa tarde e volte sempre!", que foi como me ensinaram a fazer!

22.6.07

Recente descoberta, modesta sugestão


Cómo decir que me parte en mil
las esquinitas de mis huesos,
que han caído los esquemas de mi vida
ahora que todo era perfecto.

Y algo más que eso,
me sorbiste el seso y me decían del peso
de este cuerpecito mío
que se ha convertío en río.
de este cuerpecito mío
que se ha convertío en río...


Bebe, Pafuera Telarañas, 2004
(Exc. de Siempre me quedara)

21.6.07

Reported: missing

Às vezes apetece desaparecer, não é? Saltar um hiato de tempo que nos vai fazer uma dor de cabeça tão grande e criar tantos problemas, que o nosso desejo mais veemente é mesmo evaporarmo-nos como por magia e reaparecer quando tudo estiver mais calmo. Quando tudo estiver resolvido, reaparecemos nós, como se nada tivesse acontecido e ninguém tivesse dado pela nossa falta. Mãos nos bolsos, ar descontraído: "foi uma fase difícil esta, hein?" Sem ter a mínima noção do que realmente se passou, só mesmo para gozar com a cara de quem teve de arcar com as consequências dos nossos actos. Humm. Dito assim, não parece muito correcto, pois não? Não. Deve ser aquela parte da consciência vestida de branco, com asinhas e auréola, como nos livros do tio patinhas que me está a alertar. Sempre preferi o diabinho, mas nunca tem argumentos de jeito.

De qualquer forma, essa fantasia de me evaporar perante os problemas nem sequer é verosímil. Mas encenar um rapto, já era. Humm. Ainda para mais tinha a vantagem de, perante uma situação de crise ainda maior, diminuir consideravelmente a importância de quaisquer outros problemas que existissem. "Epah o gajo fez merda, mas agora pode estar morto, coitado." O crime perfeito. É claro que esta ideia (e a frase anterior, já agora) já tem séculos, é dos clichés mais gastos da história do cinema e da literatura policial, mas não deixa de ser aliciante.

O que uma pessoa faz para fugir aos problemas... E enfrentá-los, não? És um homem ou um rato? Não há nada pelo meio? Não é lá que está a virtude? Um cão? Um cavalo? Um chimpazé... a aproximação genética há-de valer alguma coisa. Help!




When I was younger, so much younger than today
I never needed anybody's help in any way.
But now these days are gone, I'm not so self assured,
Now I find I've changed my mind and opened up the doors.

Help me if you can, I'm feeling down
And I do appreciate you being round.
Help me, get my feet back on the ground,
Won't you please, please help me...

(isto com banda sonora ficava muito mais fixe, mas ainda não domino a blogosfera a esse ponto. Dicas aceitam-se.)

19.6.07

Some of the voices inside my head...


Se, ao te conhecer, dei pra sonhar, fiz tantos desvarios. Rompi com o mundo, queimei meus
just the strange kind of nothing where there used to be me.
navios... Me diz pra onde é que inda posso ir.

No meio do caminho...

Gritos, berros de poesia, espasmos de cores em quadros inesperados, cartolas e fraques em
gestos de desaprovação, uniformes a querer segurar toda esta loucura, que se espalha como areia, numa jaula de barras largas. Quatro nomes: Oswald, Mário, Tarsila e Anita. Era assim que imaginava a Semana de Arte Moderna de 22, tinha 12 anos.

... tinha uma pedra.

Talvez até tenha futuro, não sei, talvez a segunda melhor coisa que se consegue a seguir a um
I hate darkness and sleep and night and lie longing for the day to come.
grande amor é viver na teimosia de o ter perdido.
Here is another day, here is another day, I cry as my feet touch the floor.

Anseio com uma angústia de fome de carne

Eu queria ver a Teresa no fundo da Teresa, no seu mais desvão, mito fortuna, na anatomia do sexo durante o sexo, na pela húmida, tensa, túrgida. Ali eu ainda estava meio tímido, mas depois aprendi a contemplá-la com os dedos, com a língua, toda inteira_ toda inteira mas sempre me faltava alguma Teresa. Sempre, algum recôndito aonde não chegava meu desejo, meu pensamento, meu olhar, minha intenção, minha língua, meu sexo, o que fosse.



...O que não sei que seja.

Desperdiçar aquilo que se tem por um laivo de esperança numa paixão assolapada é o que tenho
Blue, here is a shell for you
feito nos últimos tempos da minha vida. Escusado será dizer que de tanto desperdiçar, já não
Inside you'll hear a sigh
tenho nada. Nada. Insisto nos bolsos, procuro, mas desconfio que estão rotos e tudo foi embora
A foggy lullaby
sem eu sequer ter notado. Onde terei perdido tudo o que tenho? Tinha. Onde estará tudo o que
There is your song from me
eu tive?

Cortaram os trigos. Agora a minha solidão vê-se melhor.

Vou-me sentar aqui, respirar até doer as coisas possíveis nunca reais. Aprender, nó a nó, como
It may be a bruised day, an imperfect day.
te soltas;

Dêem-me Água de Vidago, que eu quero esquecer a Vida!

A labareda. Uma labareda que se desencadeia na cabeça nova arquitectada ao cimo do corpo, que afronta o mundo e o devasta como a vinda de Deus: a maneira demoníaca que Deus tem de arrombar as portas, quando toca com os dedos para se anunciar.
Então KZ abandonou tudo, e desapareceu. Deixou dito: Vou procurar um coelacanto. E nunca mais voltou, nunca mais voltará.


18.6.07

A Letter to Elise

oh elise it doesn't matter what you say
i just can't stay here every yesterday
like keep on acting out the same
the way we act out every way to smile
forget and make-believe we never needed
any more than this... any more than this

oh elise it doesn't matter what you do
i know i'll never really get inside of you
to make your eyes catch fire
the way they should
the way the blue could pull me in
if they only would, if they only would
at least i'd lose this sense of sensing
something else that hides away
from me and youthere're worlds to part
with aching looks and breaking hearts
and all the prayers your hands can make
oh i just take as much as you can throw
and then throw it all away
oh i throw it all away
like throwing faces at the sky
like throwing arms round
yesterday i stood and stared
wide-eyed in front of you
and the face i saw looked back
the way i wanted to
but i just can't hold my tears away
the way you do...

elise believe i never wanted this
i thought this time i'd keep all of my promises
i thought you were the girl always dreamed about
but i let the dream go
and the promises broke
and the make-believe ran out...

so elise it doesn't matter what you say
i just can't stay here every yesterday
like keep on acting out the same
the way we act out
every way to smile
forget
and make-believe we never needed any more than this... any more than this

and every time i try to pick it up
like falling sand
as fast as i pick it up
it runs away through my clutching hands
but there's nothing else i can really do
there's nothing else i can really do at all...

The Cure
Wish

17.6.07

Um exemplo a seguir, meus amigos

Para aligeirar os ânimos aqui no blog e colocar um pequeno balão de oxigénio depois do ecletismo que paira nos dois últimos textos, vejo-me na obrigação de postar algo mais leve... embora eu tenha, obviamente, alguma dificuldade em escrever coisas leves. Portanto, e porque acho que cada um deve conhecer o desenho das suas fronteiras, faço minhas as palavras desta senhora... Sit back, enjoy e viva a ligeireza!



Um agradecimento especial ao KZ, que me mostrou esta obra-prima pela primeira vez. Podem encontrá-lo em Lugar Lugares e Dispersário (link's ao lado).

15.6.07

P e s s o a s

Pessoas. Olhar pessoas com olhos de ver, profundos, intensos, não transparentes, não líquidos. Olhar o mundo como uma tela …But if the world could remain within a frame like a painting on a wall./ Then I think we would see the beauty/ then we would stand staring in awe at our still lives posed like a bowl of oranges,/ like a story told by the fault lines and the soil ... Olhar na totalidade, em vez da perspectiva do eu. Descolar da tela e sentar na plateia. Custa descolar da tela, está agarrada à pele com a veemência dos costumes, do hábito, do vício do egocentrismo. O processo é doloroso mas eficaz, demora um tempo demasiado, mas acontece. Olhar pessoas como pequenas viagens. Indivíduo = viagem. Cada eu será um processo de conhecimento intricado. Quantas pessoas conheces? Quantas pessoas já olhaste nos olhos, já fixaste até doer a vergonha de sermos vistos a ver? E tu, já foste visto? Já te olharam dentro? Já te espreitaram no âmago do teu ser, tens a capacidade de desvelar isso a alguém? O que sentiste?

A primeira vez que me olharam dentro, estremeci. Senti que o campo velado que tão formiguinhamente construí foi estilhaçado de uma só investida. Fiquei nua e exposta a um estranho e detestei a sensação. Mas compreendi que foi uma rendição justa. Uma batalha sem luta, cavalo de Tróia a ser descoberto apenas quando já o sentia nos meus ecos interiores.

Que interiores complexos se escondem atrás destas máscaras que envergamos todos os dias? Disparo cavalos de Tróia em todas as direcções na esperança de que algum me volte, dócil e obediente, com o segredo de alguém no seio. Por vezes é uma tarefa dificultada por escudos levantados a tudo o que vem do exterior. Há muros levantados sem se saber muito bem porquê. Mas também há frágeis véus, quase transparentes, mas que nos engodam na sua fluidez, acabo por me enlear em camadas de transparências que juntas, formam a mais cega das opacidades. Confesso que essas são as mais desafiantes e recompensadoras: desenlear os véus, um a um, desfazer os nós, pacientemente, com cuidado para não desfiar a fragilidade da organza. Chegar ao último véu e perceber que as primeiras transparências eram as mais enganadoras, pintavam de branco o que era negro, transfiguravam prantos em sorrisos rasgados. Tão perto que estão os dois. Os olhos não sorriem quando há pranto dentro. Hoje passearam-se tantos prantos suspensos por frágeis pinças numa linha de seda. Há que ser rajada de vento e sacudir essas linhas, abrir as pinças e semear prantos pelo mundo.

13.6.07

Perdida entre as l i n h a s


Finisterra. Paisagem e povoamento: Juntar palavras.

Prefiro a outra, que se vê da janela. As dunas, o deserto: linhas mais suaves.
E sabe-a de cór?
Passei a vida a olhá-la. Que lhe parece?
Cap. XXIX, pg.121

Ouviste?
Ouvi.
Sentiste?
Senti.
Viste?
Vi. Como nunca antes vira.
Então descreve-me tudo isso.
Não posso. O silêncio que humedece as paredes colou-se à minha pele, entranhou-se na garganta e encarnou a palavra por proferir.
O silêncio, sempre o silêncio. Mas porquê?
Porque o revérbero pode ou não surgir no meio de uma tempestade.
E o fogo?
O fogo é... a mudança.
Temes a mudança?
Não. Temo o fim. Habitamos o fim da terra, podemos muito bem habitar o fim dos tempos também.

As palavras no romance de Carlos de Oliveira são pensadas e proferidas como se algo sagrado fosse desprendido a cada fôlego. Nenhuma delas cai num vazio de sentido, são antes habilmente dadas a colher pelo leitor eleito. Em algumas passagens, chegamos mesmo a sentirmo-nos iludidos e pensamos ler poesia em vez da prosa devida ao romance, tal é a subjectividade que experimentamos.


Na brevidade de cada capítulo, somos transportados para um universo narrativo entre o sonho e uma realidade a cada momento questionada. Encontramo-nos entre gisandras que tão depressa são flores, trepadeiras, leite curandeiro ou simples presença certa; enveredamos por áleas mais escuras, ou mais verdejantes, sempre com receio que a floresta se incendeie ou que o revérbero primordial exale uma luz que os nossos olhos não possam suportar. Há sempre um perigo que aguarda lá fora, fora da casa, para lá do halo protector (?), lá onde não se pode fechar as portadas e onde a imutabilidade do quadro pendurado na parede é substituída pela imprevisibilidade das dunas e pelo caotizar lento de um jardim.


Apaguemos a casa, entremos dentro da câmara escura (a penumbra vermelha, os reflexos de sangue nas chapas, nos banhos das cuvetes, cap.XXX), que lá poderemos fotografar a nossa realidade e não ser surpreendidos pela imagem emergente da chapa que, lentamente, rouba ao líquido a definição das suas formas.


11.6.07

S a d S o n g

Went to the doctor
I said, doctor please
What do you do when your true love leaves?
Said, the hardest thing in the world to do
Is to find somebody who believes in you

I went to the whipper whale
I said, whale please
What do you do when your true love leaves?
She said, I only have one trick I got up my sleeve
I sing it over and over til he comes back to me

I make a sad, make a sad
Make a sad, sad song...




Cat Power
Speaking for trees



10.6.07

Em análise

Signo Escorpião: Tudo está ao seu alcance e pode dizer-se que os aspectos sentimentais estão em boa fase. Poderá surgir uma nova solicitação profissional a que terá de aceder. Previsão para hoje da astróloga Maia, Correio da Manhã.

Ora vamos lá analisar esta providência maiana para o dia 10 de Junho de 2007. Primeira ideia, arrasa logo com tudo: Tudo está ao seu alcance. Meu caro escorpiano, saia cá para fora, arregace as mangas e empenhe-se em fazer tudo aquilo que nunca sonhou ser possível. Hoje (mas só hoje, hein? até às 0h00) poderá fazer tudo! Devido a limites de tempo, terá de ser perto, se uma das suas ideias era escalar o Everest ou o Kilimanjaro, esqueça, com viagens, transfers e fuso-horários não chega lá antes da meia-noite de certeza. Mas não se acanhe, a serra de Sintra também oferece excelentes condições de escalada e aquele nevoeirozinho que paira sempre para aqueles lados até pode dar mais mística à experiência.

Passamos agora para a previsão seguinte: os aspectos sentimentais estão em boa fase. Ok. Não dá assim para uma pessoa se entusiasmar muito, mas já é "razoavelzinho". A fase é boa, fixe. Os aspectos sentimentais são uma daquelas expressões completamente generalistas que abarcam tudo e mais alguma coisa, por isso fica-se na dúvida se se refere aquele relacionamento que está pendurado há dois anos ou à briga que tive com o meu irmão a semana passada. Mas a fase é boa, fixe.

Por último, o clímax: Poderá surgir uma nova solicitação profissional a que terá de aceder. Meu Deus, será? Poderá, eventualmente, hipoteticamente, se nada ocorrer em contrário, se não chover, se eu não for atropelado entretanto, se eu sair de casa, se não perder o telemóvel, se alguém se lembrar de mim.... (and so on and so on) se por acaso se sucederem uma série de acontecimentos específicos, poderá surgir uma solicitação profissional. Iuuupiii!! Mas... espera lá! Solicitação profissional? O que é isso realmente? Será que aquele pedido da minha sogra para lhe montar os bancos da cozinha poderá ser considerado uma solicitação profissional? Ainda por cima, fui alvo de chantagem, portanto, terei mesmo de aceder. São demasiadas coincidências.

Conclusão: a Maia é bruxa. E ninguém desperdiça tanto tempo com um horóscopo do Correio da Manhã. Está assim declarada a completa inutilidade do tempo que me foi concedido e a do vosso, que leram até ao fim. Obrigado.

9.6.07

Alternativas?

Voltar atrás sempre pareceu uma alternativa, mesmo nunca o sendo realmente. Nunca se pode voltar atrás para o que foi um dia, sem diversos prejuízos e um preço alto a pagar. Não sei porque as pessoas olham tantas vezes para essa porta quando estão numa encruzilhada. Não é uma porta, tem uma parede de cimento por detrás. Imagina. Estás num dos maiores dilemas da tua vida, ou melhor, estás num buraco sem saída, daqueles mesmo lixados, em que não há solução possível… olhas em volta, nada. Só aquela teimosa porta que nem sequer representa uma solução. É preciso ainda estares agarrado a uma juvenil ingenuidade para olhares uma segunda vez, para os mais vividos, é só uma teimosa e sádica presença.

Ok, sabemos que seria muito bom sacudir a poeira, levantarmo-nos do chão e ora vamos lá tentar outra vez que esta correu mal. Como se de um ensaio para uma peça se tratasse, o pessoal engana-se, troca as deixas, muda completamente o rumo da história, mas o encenador está atento e: espera lá! Vamos lá fazer a cena do início. Era um cantinho aconchegante saber que se poderia refazer tudo quando algo corre mal. Mas não. Não há cantinhos, não há refúgios, não há colo! Se fazes merda, ardeu! Vive as consequências, meu amigo, sejam elas quais forem! Ouviste muitas vezes dizer com aquela sabedoria de bolso irritante “quem boa cama faz, nela se deita” e cá está a tua caminha: lençóis do avesso, cobertas a escorregar para os lados, cabeceira… qual cabeceira? Foda-se, esqueci-me que a cama tinha de ter uma cabeceira, agora nem sei para que lado me hei-de deitar. Deita-te nela como conseguires, vais remendando os erros conforme puderes.

E uma ajudinha dos amigos, pode ser? Depende. Quantos amigos tens? O que tens feito pela vossa amizade? Quantos cafés recusaste porque não te apetecia aturar outras pessoas? Todas estas perguntas e mais algumas vão ser gritadas de uma alta tribuna por um juiz louco e vais ser julgado pelas tuas respostas antes da mais leve impressão de qualquer braço estendido de ajuda. Amizade incondicional? Pois claro. Existe sim, na Heidi, na Ana dos Cabelos Ruivos, consta que o Sangoku e o Krilin também gozavam de tal estatuto. Cresce! Os amiguinhos não aparecem para salvar ninguém, isso era nos desenhos animados. Lembras-te? Aquela realidade alternativa em que vivíamos durante algumas horas ao fim da tarde, enquanto durava o Brinca Brincando (que já agora é um dos nomes mais estúpidos e redundantes que o imaginário televisivo conseguiu produzir). Na idade adulta, o conceito de amigo deforma-se, qual sadio Tom Sawyer feito Quasímodo, para ser mais um daqueles irritantes estiletes sociais que te espoletam para a vida, qual menir solitário a aterrar num campo de bárbaros que só te querem foder a vida. Literalmente.

Bem, mas que meada fugidia esta, nem me vou preocupar em tentar apanhá-la, já lá vai longe. Uma pausa agora. Estilo Nescafé. Fim de tarde, praia deserta, sentada no capot do carro, a beber um cafezinho quentinho… I can see clearly now the rain is gone… Bullshit, não é nada disto, vou mas é vegetar em frente à televisão.

Bloguemos nós agora!

Já que tudo cá anda, vamo-nos meter também ao barulho! Vale tudo! Para teres um blog é só pensares que tens alguma coisa para dizer ao mundo, mesmo que o mundo nunca vá ouvir nada. É o desejo de pôr a boca no trombone, não ser apenas mais um, estar na berlinda e mais um chorrilho de lugares comuns que agora vão ficar à porta, porque já deu para perceber que eu não sei ser original sem bengalas.

Já não há leitores possíveis para tanto blog! Mas não digam isto a ninguém, não vá haver aí uma série de suicídios de adolescentes que afinal pensavam que isto era alguma coisa. Eu nego tudo! Qual mão na bíblia, qual quê, enquanto não me mostrarem quem é o autor daquilo, jurar sobre aquilo ou sobre as aventuras da Sabrina é o mesmo!

Não obstante, a verdade é que eles (os blogs) vão existindo, ainda que apenas para o autor/autores e para os amigos mais chegados que, não tendo mais do que fazer lá vão fazendo uns comments aos posts. Este novo vocabulário é lindo! São só pérolas cravadas à martelada nas costas da nossa velhinha língua portuguesa, ela lá vai sobrevivendo... A coitada engole estes estrangeirismos todos, primeiro em seco, para depois os vomitar meio digeridos pelos nossos 800 anos de história e raízes latinas. Nessa altura lá vêm os linguistas muito afoitos, de dicionário debaixo do braço a acenar a modernização e a gritar sítio em vez de site e estoque em vez de stock... enfim. It's evolution, baby!