PS: post assumidamente escrito em estado de ressaca do filme Hard Candy (2005). Não gostei assim por aí além, ou seja, não gostei muito, mas faz pensar numa polémica ou duas.
29.12.07
candy not "candide"
PS: post assumidamente escrito em estado de ressaca do filme Hard Candy (2005). Não gostei assim por aí além, ou seja, não gostei muito, mas faz pensar numa polémica ou duas.
2.12.07
9.11.07
Lost woman song - Ani Difranco
when i was nine years old
i closed it when i was eighteen
i gave them every penny that i'd saved
and they gave my blood
and my urine
a number
now i'm sitting in this waiting room
playing with the toy
sand i am here to exercise
my freedom of choice
i passed their hand
held signs
went through their picket lines
they gathered when they saw me coming
they shouted when they saw me cross
i said why don't you go home
just leave me alone
i'm just another woman lost
you are like fish in the water
who don't know that they are wet
as far as i can tell
the world isn't perfect yet
his bored eyes were obscene
on his denim thighs a magazine
i wish he'd never come here with me
in fact i wish he'd never come near me
i wish his shoulder
wasn't touching mine
i am growing older
waiting in this linesome of life's best lessons
are learned at the worst times
under the fierce fluorescent
she offered her hand for me to hold
she offered stability and calm
and i was crushing her palm
through the pinch pull wincing
my smile unconvincing
on that sterile battlefield that sees
only casualties
never heroes
my heart hit absolute zero...
17.10.07
I declare that the Beatles are mutants...
Declaro-me oficialmente parte da Beatlemania. Hoje, 40 anos depois do grande boom desta banda. Parece incrível, a destempo, despropositado até, não fossem estes 4 meninos os maiores génios da música do século XX. Com este pressuposto não será de estranhar que alguém algures no século XXIII chegue à mesma conclusão. Talvez seja demais este superlativo absoluto, talvez não seja. Opiniões há muitas. Aliás, como outras coisas, cada um tem a sua. Mas, digam-me, assim de repente, lembram-se de alguém que tenha feito mais (pela) música em tão pouco tempo?
(Obrigada a quem me despertou para este fenómeno. Sei que não sou uma discípula muito aplicada, mas, a meu ritmo, lá vou tirando as minhas conclusões.)
ERRATA pós-post : Há que corrigir que o chamado boom dos Beatles foi em 1963, logo, há 44 anos e não há 40 como disse acima (isto depois de ser advertida e devidamente açoitada pelo meu mentor).
15.10.07
The Same Deep Water As You
can't you see i try swimming the same deep
water as you is hard "the shallow drowned lose
less than we" you breathe the strangest twist
upon your lips "and we shall be together..."
"kiss me goodbye bow your head and join with
me" and face pushed deep reflections meet
the strangest twist upon your lips and
dissapear the ripples clear and laughing break
against your feet and laughing break the mirror
sweet "so we shall be together..."
"kiss me goodbye" pushing out before i sleep
it's lower now and slower now the strangest
twist upon your lips but i don't see and i don't
feel but tightly hold up silently my hands
before my fading eyes and in my eyes your
smile the very last thing before i go...
i will kiss you i will kiss you i will kiss you
forever on nights like this i will kiss you i will
kiss you and we shall be together...
The Cure - Disintegration
12.10.07
Fios
Penso: a maior parte das pessoas vive assim a vida toda: com um emaranhado de fios à frente. Ligações antigas, ligações novas, ligações de sempre, todas se cruzam indiscriminadamente e já não sabemos qual o fio que devemos preservar com mais carinho, qual aquele que devemos romper o quanto antes. São todos iguais. E a vista para fora do casulo torna-se cada vez mais turva. Que fazer quando a emergência de salvar um dos fios surge? Como encontrar o fio que está tão frágil que precisa de ser reforçado, cuidado, acarinhado? Qual deles é? E a fonte não é nítida... Queremos olhar para fora do casulo, reconhecer o olhar que sabemos estar do outro lado, mas esta cegueira é a mais incapacitante de todas. O que resta?
Romper com todos os fios! Há que buscar forças e com uma implusão de revolta destruir este casulo com demasiados fios. Estalar todos eles de um só respiro. E depois? Reconstruir. Remendá-los. Um a um, aqueles que realmente te pertencem. Mas desta vez olhar e pegar em cada fio cuidadosamente e dar-lhe um lugar. Hão-de resistir. Hão-de até ficar mais fortes.
7.10.07
Putas
Não será antes (ou pelo menos também) ao contrário? Não serão os autores as senhoras meretrizes que por detrás de uma montra, a cada romance, tentam agradar ao máximo de clientes possível de uma só vez? É claro que existem as mais elitistas, essas ou sobrevivem à conta de uma clientela fiel ou acabam a lavar escadas, piscando o olho ao desprevenido que passa, prometendo-lhe delírios se quiser descer até à arrecadação.>
5.10.07
Joni
(porque a voz dela é límpida e inigualável. porque me faz lembrar momentos bons. porque há uma pessoa no mundo que entende.)
3.10.07
30.9.07
o meu caminho
Se por acaso um dia optasse por um caminho diferente a novidade distrair-me-ía desta tão querida introspecção e realinhamento interior e o meu amanhã nasceria em caos.
Mas os imprevistos acontecem e hoje o meu caminho para casa estava cortado. Tinha de optar por outro. Decisão difícil. Não. Decisão impossível. Não quero optar por outro. Quero ir por aqui. Este é o meu caminho. Mas, minha senhora, a estrada está cortada, não pode. Tenho de poder. Tenho de ir por aqui, não percebe? Não vai ser possível. Como não? Posso ao menos ir a pé? Sim, penso que sim, mas...
Só espero que o carro esteja no mesmo sítio amanhã e que as minhas pernas não me doam insuportavelmente.
20.9.07
| note to self |
Incrível como passamos quase uma vida inteira a tentar construir algo, tijolo com tijolo, cimento e lágrima e de repente há um bombardeio inesperado que deita tudo por terra. Na estupefacção do momento tentamos recolher os destroços, apanhar as pedras, juntá-las, reconstrui-las no nada que agora nos rodeia. Não é possível. Tudo caiu por terra. A vulnerabilidade novamente.
O extraordinário é que em vez de lamentar a construção perdida, floresce um sorriso e dizemos abençoada bomba: não tinha reparado que a minha muralha tapava o mais lindo pôr do sol do mundo.>
14.9.07
11.9.07
O tempo do Chico (I)
Surpreendentemente, até da misoginia que emana de muitas das suas letras eu gosto. Já me julguei e confrontei em prolongados solilóquios sobre esta aparente contradição entre o meu gosto e a minha personalidade que, não sendo feminista, é com certeza anti-misógina. No entanto, chego sempre a uma conclusão: nas palavras/voz do Chico, parece-me bem. Contraditório? Claro que sim. De todos os ângulos, mas tenho de admitir que é esta a verdade. Ouvir o Chico cantar aquelas músicas, normalmente na primeira pessoa de uma voz feminina a maldizer um qualquer malandro que é o amor da vida dela, deixa-me rendida. E ele sabe disso. Não do meu caso particular, como é óbvio (e uma pena, posso já agora acrescentar), mas do estado em que deixa todas as mulheres que ouvem aquilo. E é por isso que ele enjeita aquele sorriso meio tímido, meio malandro, meio qualquer coisa, todo chico quando canta: E ao lhe ver assim cansado/ maltrapilho e maltratado/ainda quis me aborrecer?/qual o quê!/ Logo vou esquentar seu prato/ dou um beijo em seu retrato/ e abro meus braços p'ra você. E pronto, com isto há suspiros juvenis de mulheres feitas por esse mundo fora, porque há um homem com uns olhos azuis incomparáveis, que escreve letras como se fosse uma mulher sobre maridos cafagestes que não sabem sossegar a passarinha e depois vêm para casa, ó querida, eu explico! e a querida desfaz-se porque ele não explica nada mas faz amor com ela até de manhã.
Mas, caros cavalheiros, desenganem-se! Não pensem que esta é uma fórmula simples de executar e de sucesso garantido. Muito pelo contrário. Eu, apesar de confessa vítima deste embuste de sotaque carioca, consigo ainda discernir que o segredo está no executante e não no acto em si. Ou seja, é o Chico que tem o tal je ne sais quoi (bolas, não me saía um lugar comum tão balofo há tempo), já que a estratégia é a mais velha do mundo. Onde é que andaste até esta hora? (mão na anca, colher de pau na outra, rolos na cabeça, avental... as esposas já não são assim nos anos 2000, pois não??) Humm... sabem que mais!? Reformulo tudo!
As mulheres já não são assim, os homens já não são como os das músicas do Chico. Na verdade, será mais correcto pensar que nos nossos dias as mulheres estão-se nas tintas para onde os maridos andaram porque tiveram a trabalhar o dia todo e só querem chegar a casa, tomar duche e relaxar. Os maridos também não estão para inventar desculpas e na maior parte das vezes estão demasiado cansados para chegar a casa e tomar a mulher de paixão assolapada e fazer amor até de manhã, até porque amanhã é dia de trabalho. Pois. É isso. Chico? Estás fora do teu tempo. As pessoas já não são apaixonadas umas pelas outras. Agora há coisas mais importantes. Há o trabalho. Há a internet. Há o telemóvel. A PS2, 3, PSP e isso tudo. Há, porque não?, os cães para passear, há os filhos para ir buscar ao infantário e o quality time com eles (1h, 1h30) até adormecerem e depois há a televisão. Felizmente há também as artes, a literatura, a música, há os álbuns do Chico para viajarmos ao passado. Aquele tempo louco em que as pessoas se amavam, odiavam, desejavam, traíam, voltavam e beijavam-se no fim. Deve ser por isso que gosto tanto deste malandro de olho azul e sorriso bonito.
Quando olhaste bem nos olhos meus
E o teu olhar era de adeus, juro que não acreditei
Eu te estranhei, me debrucei
Sobre o teu corpo e duvidei
E me arrastei, e te arranhei
E me agarrei nos teus cabelos
No teu peito, teu pijama
Nos teus pés, ao pé da cama
Sem carinho, sem coberta
No tapete atrás da porta
Reclamei baixinho
Dei pra maldizer o nosso lar
Pra sujar teu nome, te humilhar
E me vingar a qualquer preço
Te adorando pelo avesso
Prá mostrar que 'inda sou tua
Até provar que 'inda sou tua
8.9.07
Lentes
Antigamente tinha uns óculos verdes. E antes disso tive uns azuis. Andava mais bem disposta nessa altura. O mundo era diferente. As cores misturavam-se. Um verdadeiro desafio à ordem natural das coisas.
Agora que decidi comprar uns óculos escuros, sem uma cor bem definida, ando desiludida com a previsibilidade cromática do mundo à minha volta.
Penso: como é que se pode aplicar este raciocínio às minhas relações interpessoais? Há sempre uma forma. Sempre me tentaram fazer engolir que a nossa forma de ver o mundo espelha de algum modo as nossas relações. É um tanto óbvio, não? Não é bem a descoberta de uma teora da relatividade... A forma como vemos o mundo está directamente ligada com a forma como nos relacionamos com as outras pessoas. Sim. Faz sentido. Até porque as outras pessoas fazem parte do mundo, não?
Ok, entrei na espiral. Estou tramada. Sempre que tento puxar de um raciocínio mais nonsense escorrega-me o calcanhar para esta espiral verborreica e era capaz de ficar aqui a noite toda a dizer nada.
Voltando ao início do texto, e para dar a ilusão de que esta divagação tem um mínimo de congruência, decido que a minha próxima aquisição vai ser uns óculos com uma lente de cada cor. Vou radicalizar a coisa. Se me der na gana, talvez arranje uns daqueles de cartão que se usavam nos anos oitenta para ver filmes a 3D (como o Monstro da Lagoa, o único de que tenho memória). E aí sim quero ver como isso se reflecte nas minhas relações interpessoais. My guess? Acho que vou de repente ficar sozinha. Ou então, se me distraio na estação do metro ainda me mandam uma moedinha para os pés_ coitadinha, pensam num nanosegundo, para depois me esquecerem para sempre. É isso mesmo. Sempre me fascinou a possibilidade de ser vista como louca sem o ser realmente (?!). Talvez seja mesmo isso: não só a minha visão do mundo é alterada pelos meus óculos de sol, como também a forma como o mundo me vê. Que conclusão brilhante.
Tenho de deitar estes fora, a minha vida vai mudar. >
27.8.07
8.8.07
...porque antony e cocorosie juntaram-se e fizeram uma música perfeita
Those, those beautiful boys
Those, those beautiful boys
Cocorosie :
Born illegitimately
To a whore, most likely
He became an orphan
Oh what a lovely orphan he was
Sent to the reformatory
Ten years old, was his first glory
Got caught stealing from a nun
Now his love story had begun
Thirty years he spent wandering
A devil's child with dove wings
He went to prison
In every country he set foot in
Oh how he loved prison
How awfully lovely was prison
Antony :
All those beautiful boys
Pimps and queens and criminal queers
All those beautiful boys
Tattoos of ships and tattoos of tears
Cocorosie :
His greatest love was executed
The pure romance was undisputed
Angelic hoodlums and holy ones
Angelic hoodlums and holy ones
Antony :
All those beautiful boys
Pimps and queens and criminal queers
All those beautiful boys
Tattoos of ships and tattoos of tears
(...)
(só uma sugestão, a letra é fabulosa, mas vale mesmo a pena é ouvir...)
5.8.07
Declara-se total inactividade e ausência de criatividade inerente ao quente mês de agosto. Nem uma ideia pinga desta testa atormentada pela passagem demasiado rápida do tempo. Resta-nos outros blogs, outras conversas, outras andanças. Por aqui nada se faz, nada se pensa, nada de novo... Não há-de ser nada. (a repetição do nada foi espontânea e sintomática). Há-de passar. E pela primeira vez a inércia é faca. Boas férias para quem está, para quem estará, para quem julga que está e para quem gostaria de estar!
25.7.07
É p'ra amanhã, bem podias fazer hoje...
A melhor sensação que alguém poderá ter será, certamente, a de alívio, de dever cumprido. Seja ele um alívio fisiológico, uma tarefa terminada, um amigo reconfortado, desapertar o soutien ao fim do dia ou uma tese de mestrado terminada, não interessa, é o melhor que se pode ter.
A expressão facial é mais ou menos eufórica conforme a situação, mas o sentimento cá dentro é o mesmo: Já está! Não preciso mais de me preocupar com isto! Está resolvido! O que eu gostava de poder dizer isto... Neste momento sinto-me como um alcóolico a sonhar com a cura, dentro de uma loja de bebidas: "Como eu gostava, mas..." e tufa, lá vai mais uma garrafa debaixo do braço, e atiro resignada para "amanhã" essa almejada utopia.
Como o meu fígado não se ressente se eu adiar eternamente uma tarefa, desconfio que não haverá nada mais, além da minha consciência, para me levar a atingir o desejado. Maldita consciência. Nunca confiei muito nela. Dizem que as pessoas mudam (mentira descomunal!), mas nunca ouvi tal coisa acerca das consciências...
Resta-me a religião. Dizem que é para onde nos viramos quando tudo o resto não funciona. Nao faz muito sentido, pois não? Estou cheia de problemas por resolver, não encontro soluções, então vou acreditar piamente em alguma força superior a quem possa entregar as responsabilidades e a minha sorte, pronto. Tenho muitas por onde escolher. Vou investigar e averiguar qual será a mais eficiente no que diz respeito a incitar o crente a trabalhar, abandonar o ócio, rever as prioridades e finalmente tirar pesos dos ombros... humm... assim de repente nada me ocorre. Sugestões aceitam-se.
Entretanto, o Variações é que sabe.
21.7.07
Shows start at dusk
Vale muito a pena ver. Pelos geniais diálogos tarantinianos. Pelas cenas propositadamente mal cortadas à la série B. Pelas "Girls" sempre tão bem escolhidas e a inflamar o peito de qualquer espectador com o verdadeiro Girl Power (as melhores: Rosario Dawson, Vanessa Ferlito e Zoe Bell, as herself). Por uma das mais fabulosas cenas de 'car crash' que me lembro de ter visto com direito a pernas a saltar e pneus a varrer pessoas (ele vai mesmo aos pormenores). Pelas duas horas que tivemos direito cá na Europa, em contrapartida pela falta da sessão dupla anteriormente prometida com Planet Terror do Rodriguez. Pelo Kurt Russel rebuscado de um quase anonimato, um verdadeiro duro, dos antiguinhos. E claro, pelo Tarantino a entrar discretamente no filme como uma personagem secundaríssima, mas marcante. Muito bom.
16.7.07
Jorge Palma revival
A propósito do lançamento do seu mais recente álbum Vôo nocturno, fui rebuscar aquele Jorge Palma antiguinho, dos anos oitenta, quando as suas letras eram inovadoras e as suas músicas surpreendentes. Quando ainda não havia ninguém que dissesse tão bem em português a alma crua e sempre um pouco nua, com um tom toldado de Johnny Walker. Sempre gostei e ainda gosto muito do Palma, apesar de ainda não ter ouvido o seu novo trabalho, de qualquer forma, temo que sempre ficarei agarrada à imagem já quase cliché do Jorge sozinho no palco, inclinado sobre o piano, com a garrafa de whisky à frente a recitar aquelas métricas impossíveis que se entranharam na memória de qualquer um que se tenha sentado a ouvi-lo.
A gente já não sabe o que há-de fazer com a lua
Gerou-se um curto-circuito no canal telepático
E a caverna clandestina por detrás da cascata
Onde os amantes se entregavam à eternidade
Hoje não passa dum moderno armazém de sucata
Existem mil produtos para encher o vazio
Criámos computadores para ampliar a memória
E todos nós temos disfarces para aumentar a confusão
Só não sabemos como fazer o amor durar
O grande enigma continua a dar-nos cabo do coração
"Olá, a que horas parte o teu comboio?
O meu é às cinco e trinta e três
Ainda falta um bom bocado,
Queres contar-me a tua história?
Espera, deixa-me adivinhar,
Vais recomeçar noutro lado...
Trazes escrito na bagagem
Que a coisa aqui não deu...
Quanto a mim, também me sinto um pouco desenraízado... "
Também o amor se adapta às leis da economia
Investe-se a curto prazo e reduz-se a energia
E quando o barco vai ao fundo ninguém quer ser culpado
Mas nunca é tarde para se ter uma infância feliz
O cavaleiro solitário ainda sonha acordado.
Nunca é tarde para se ter uma infância feliz
O lado errado da noite, 1985.
10.7.07
Danças Interiores
Já me perguntaram mais do que uma vez porque escolhi dar uma nome tão depressivo ao blog. Fico algo espantada. Depressivo? Acham mesmo? Não foi de todo para dar aquele ar de coitadinhismo, vamos lá todos cortar os pulsos, que o mundo é um lugar frio e estamos todos sozinhos. É claro que todos temos os nossos momentos menos animados em que introspectamos sonhos e ideias que sabemos existir só e para sempre cá dentro, mas... por favor! daí a fazer disso um estandarte e ficar com o olhar perdido no horizonte cada vez que passa "aquela música" (categoria que entretanto já inclui umas 300) e não conseguir descolar a mão do queixo nem por força de diluente, isso é um caso diferente!
Há que esclarecer que o nome do meu blog nada tem a ver com estes estereotipos acima descritos. Em primeiro lugar fi-lo para homenagear uma música que eu adoro do Paulinho da Viola (1972) talvez mais conhecida pela interpretação de Marisa Monte, intitulada, precisamente, A Dança da solidão. Em segundo, porque acho um conceito lindo este de dançarmos todos ao som da nossa solidão. No fundo, é isso que fazemos todos os dias, mesmo aqueles que insistem que nunca estão sozinhos, há sempre um momento em que o nosso ritmo interior é diferente do que se passa à nossa volta. Momentos em que não estamos em sintonia com os sons e gestos que os nossos olhos e ouvidos recebem. Estamos todos "virados para dentro", mesmo que seja numa sala cheia de gente com o melhor dos nossos sorrisos estampado nos lábios. E o que é um blog senão a verbalização ou simples comunicação dessas danças interiores? Expômo-nos aqui como num diário, mesmo que nunca falemos de nós próprios. Posso estar a falar do filme que vi ontem na televisão e mesmo assim o leitor vê-me dentro muito mais claramente do que a pessoa que se senta todos os dias ao meu lado no trabalho.
Enfim, são fenómenos, mais ou menos conscientes. Acima de tudo há partilha. Danças isoladas fazem um baile? Claro que sim. Dançamos todos uns para os outros, por muito sós que pensemos estar.
7.7.07
3.7.07
Em África não há saldos?
Achei por bem referir aqui que, actualmente, na Guiné Equatorial, o preço da catana baixou.
Graças ao fim das eleições e, portanto, ao regresso à vida normal dos guineenses equatorianos, é possível comprar-se uma boa catana por menos de 3 euros, imagine-se! Ou seja, agora que os nativos preferem usar os referidos facalhões para a agricultura e não para cortar mãozinhas, os preços estão mais competitivos. Saldos, meus amigos! É de aproveitar! (Num país de terceiro mundo perto de si).
Fonte: TSF
30.6.07
Volta Vitinho!
Aproveito esta minha recente aventura na blogosfera para lançar um repto: onde estão os bonequinhos que nos cantavam uma música de embalar a seguir ao telejornal? O ursinho teddy, o vitinho, os patinhos, até a mascote do continente enjeitou qualquer coisa nesse sentido... Todos perdidos. Já não querem pôr os putos a dormir! Juro que, no meu tempo, resultava. Assim que começava a ouvir aquela musiquinha uma sonolência começava a apoderar-se das minhas pálpebras e já via o Boa noite e Até manhã dos papás do Vitinho com um olhito só. Aquilo é que era manipulação televisiva desinteressada! O facto de o inocente menino de chapéu de palha ser a imagem da Milupa, era pura coincidência!... Pronto, sabemos que não era, mas isso agora não interessa nada, eu, por exemplo nunca troquei o meu Nestum de mel pelo Milupa!
Bom, mas isto para dizer que há uns tempos, nem sequer sei se ainda se mantém, vi a Floribella aos pulos e saltos e gritos e flores e tudo, como só ela sabe, a querer fazer qualquer coisa como o Vitinho fez há uns bons 20 anos. Fiquei chocada! E julgo que também o Vitinho (que entretanto deverá ter crescido e agora é o Sô Vítor, contabilista de renome e consta que sofredor crónico de insónias) deverá resmungar umas obscenidades ao testemunhar tal ofensa. Como é que a rapariga quer pôr alguém a dormir? A meu ver, não estão, de modo nenhum, reunidas as condições mínimas. Aquela agitação toda, como se tivesse um vibrador com pilhas duracell entalado algures, aqueles olhos muito abertos e aquele sotaque do Puorto (carago!) mesmo à peixeira do Bulhon, tudo aquilo põe-me nervosa, credo! Só apetece é dar-lhe uma droga qualquer, por favor acalma-te miúda! Ora o que é que a Sic pensou, vamos pôr a Floribella a cantar umas canções para pôr os putos a dormir! Hã?? Os miúdos vão para a cama com aquela informação toda de cores e flores e gritos e fadinhas e bruxinhas e o raio que a parta... Caros amigos, os pobres meninos, no mínimo, adquirem precocemente o síndrome das pernas inquietas.
Caros senhores que mandam na Sic e na Floribella e na programação em geral: há que voltar à receita antiga. Esqueçam a miúda eléctrica! E os super megas hipers rifixes e coisas demais! Nada como um ambiente calmo, uma voz suave a cantarolar uma melodia de embalar, sem grande alarido, sem grandes mensagens, só mesmo tipo tá na hora de ir para a cama, o dia foi longo, 'bora lá. Confesso mesmo, se vale de alguma coisa, que aquele Boa Noite e Até Amanhã sussurrados pelos pais do Vitinho antes de fechar a porta, ainda hoje me acompanham quando o sono não vem logo. Tenho dito.
27.6.07
Dizer tanto em tão pouco
Clarice Lispector
A experiência
25.6.07
Mão no queixo: Licenciatura = emprego??!
O que acham? Posso dar-vos o meu exemplo pessoal, só para cismarem um pouco sobre o assunto. Até aqui, só porque não quis entrar na carneirada de licenciados em línguas que seguem a carreira de professores de liceu, já trabalhei em três lojas de roupa de senhora (convém salientar o género que atendia, porque as gajas são muito mas muito mais cabras que eles), numa imobiliária, num bar e num escritório (onde desempenhava a desafiante tarefa de introduzir dados num computador). A ordem cronológica não é a apresentada, mas isso também não interessa nada agora.
A par destes eventos, fui seguindo o meu percurso académico, ou seja, terminada a licenciatura, descansei um ano e depois entrei para o mestrado. Teimosa! Um mestrado em Literatura! "Para que é que isso serve?" é a pergunta que oiço mais vezes. Porque a maior parte das pessoas acha que se andámos na faculdade então temos de ser ou médicos ou advogados ou engenheiros ou então professores. Pois. Ainda se aceitam profissões ditas mais "modernas" como jornalista, tradutor ou agente de turismo, mas já se franze o nariz a estas. Quando digo que a maioria das minhas colegas seguiu a carreira de professora e eu optei por não fazê-lo, sou recebida numa hecatombe de espanto: "Não?! Mas porquê? O que é que vais fazer??" Quando digo que gostaria eventualmente de seguir carreira académica respondem-me com um, "ah pois, só se for isso" com um neonizante "Não faço ideia o que isso quer dizer!" escrito na testa. Enfim, já começo a estar habituada.
O pessoal de letras é e sempre foi descriminado, olhado de lado, encarado como os gajos que fugiram à matemática no liceu e pronto. Ainda te podes pôr em pontas dos pés e acenar com uns livritos dizendo que gostas mesmo daquilo, a sério, é mesmo isto que gosto de fazer... Mas não adianta! És arrumado nessa prateleira para sempre, quer caibas, quer não. Por essas e por outras, quando me perguntam que curso tirei, reduzo o extenso e pormenorizado Línguas e Literaturas Modernas, variante em Estudos Portugueses, para um seco: Literatura Portuguesa, ou, para algum público menos exigente, Letras! assim facilito ainda mais o rotulamento e vou direitinha para a prateleira sem mais nem quê.
Assim sendo, concluo amargamente, já praticamente a desfalecer sobre um balcão de um bar qualquer em decadência alcoólica, que: meus queridos amigos, nunca na vida terei um emprego daqueles que descrevi no início. Pelo menos, não por mérito próprio. Já que tenho sempre a alternativa de simplesmente rebaixar-me ao chão que piso e andar ó tio, ó tio, para arranjar um tacho qualquer numa câmara ou noutro organismo estatal qualquer. Mas vamos assumir que tenho como princípio não perder a dignidade. Por enquanto. O desespero um dia pode falar mais alto. Nunca digas desta água não beberei. Pronto, e agora que já salvaguardei qualquer eventual desenvolvimento que a minha vida profissional possa levar, posso despedir-me, com um sorriso no rosto: "Boa tarde e volte sempre!", que foi como me ensinaram a fazer!
22.6.07
Recente descoberta, modesta sugestão
que han caído los esquemas de mi vida
ahora que todo era perfecto.
Y algo más que eso,
me sorbiste el seso y me decían del peso
de este cuerpecito mío
que se ha convertío en río.
de este cuerpecito mío
que se ha convertío en río...
Bebe, Pafuera Telarañas, 2004
(Exc. de Siempre me quedara)
21.6.07
Reported: missing
De qualquer forma, essa fantasia de me evaporar perante os problemas nem sequer é verosímil. Mas encenar um rapto, já era. Humm. Ainda para mais tinha a vantagem de, perante uma situação de crise ainda maior, diminuir consideravelmente a importância de quaisquer outros problemas que existissem. "Epah o gajo fez merda, mas agora pode estar morto, coitado." O crime perfeito. É claro que esta ideia (e a frase anterior, já agora) já tem séculos, é dos clichés mais gastos da história do cinema e da literatura policial, mas não deixa de ser aliciante.
O que uma pessoa faz para fugir aos problemas... E enfrentá-los, não? És um homem ou um rato? Não há nada pelo meio? Não é lá que está a virtude? Um cão? Um cavalo? Um chimpazé... a aproximação genética há-de valer alguma coisa. Help!
When I was younger, so much younger than today
I never needed anybody's help in any way.
But now these days are gone, I'm not so self assured,
Now I find I've changed my mind and opened up the doors.
Help me if you can, I'm feeling down
And I do appreciate you being round.
Help me, get my feet back on the ground,
Won't you please, please help me...
(isto com banda sonora ficava muito mais fixe, mas ainda não domino a blogosfera a esse ponto. Dicas aceitam-se.)
19.6.07
Some of the voices inside my head...
just the strange kind of nothing where there used to be me.
navios... Me diz pra onde é que inda posso ir.
No meio do caminho...
Gritos, berros de poesia, espasmos de cores em quadros inesperados, cartolas e fraques em
gestos de desaprovação, uniformes a querer segurar toda esta loucura, que se espalha como areia, numa jaula de barras largas. Quatro nomes: Oswald, Mário, Tarsila e Anita. Era assim que imaginava a Semana de Arte Moderna de 22, tinha 12 anos.
... tinha uma pedra.
Talvez até tenha futuro, não sei, talvez a segunda melhor coisa que se consegue a seguir a um
I hate darkness and sleep and night and lie longing for the day to come.
grande amor é viver na teimosia de o ter perdido.
Here is another day, here is another day, I cry as my feet touch the floor.
Anseio com uma angústia de fome de carne
Eu queria ver a Teresa no fundo da Teresa, no seu mais desvão, mito fortuna, na anatomia do sexo durante o sexo, na pela húmida, tensa, túrgida. Ali eu ainda estava meio tímido, mas depois aprendi a contemplá-la com os dedos, com a língua, toda inteira_ toda inteira mas sempre me faltava alguma Teresa. Sempre, algum recôndito aonde não chegava meu desejo, meu pensamento, meu olhar, minha intenção, minha língua, meu sexo, o que fosse.
...O que não sei que seja.
Desperdiçar aquilo que se tem por um laivo de esperança numa paixão assolapada é o que tenho
Blue, here is a shell for you
feito nos últimos tempos da minha vida. Escusado será dizer que de tanto desperdiçar, já não
Inside you'll hear a sigh
tenho nada. Nada. Insisto nos bolsos, procuro, mas desconfio que estão rotos e tudo foi embora
A foggy lullaby
sem eu sequer ter notado. Onde terei perdido tudo o que tenho? Tinha. Onde estará tudo o que
There is your song from me
eu tive?
Cortaram os trigos. Agora a minha solidão vê-se melhor.
Vou-me sentar aqui, respirar até doer as coisas possíveis nunca reais. Aprender, nó a nó, como
It may be a bruised day, an imperfect day.
te soltas;
A labareda. Uma labareda que se desencadeia na cabeça nova arquitectada ao cimo do corpo, que afronta o mundo e o devasta como a vinda de Deus: a maneira demoníaca que Deus tem de arrombar as portas, quando toca com os dedos para se anunciar.
Então KZ abandonou tudo, e desapareceu. Deixou dito: Vou procurar um coelacanto. E nunca mais voltou, nunca mais voltará.
18.6.07
A Letter to Elise
i just can't stay here every yesterday
like keep on acting out the same
the way we act out every way to smile
forget and make-believe we never needed
any more than this... any more than this
oh elise it doesn't matter what you do
i know i'll never really get inside of you
to make your eyes catch fire
the way they should
the way the blue could pull me in
if they only would, if they only would
at least i'd lose this sense of sensing
something else that hides away
from me and youthere're worlds to part
with aching looks and breaking hearts
and all the prayers your hands can make
oh i just take as much as you can throw
and then throw it all away
oh i throw it all away
like throwing faces at the sky
like throwing arms round
yesterday i stood and stared
wide-eyed in front of you
and the face i saw looked back
the way i wanted to
but i just can't hold my tears away
the way you do...
elise believe i never wanted this
i thought this time i'd keep all of my promises
i thought you were the girl always dreamed about
but i let the dream go
and the promises broke
and the make-believe ran out...
so elise it doesn't matter what you say
i just can't stay here every yesterday
like keep on acting out the same
the way we act out
every way to smile
forget
and make-believe we never needed any more than this... any more than this
and every time i try to pick it up
like falling sand
as fast as i pick it up
it runs away through my clutching hands
but there's nothing else i can really do
there's nothing else i can really do at all...
The Cure
Wish
17.6.07
Um exemplo a seguir, meus amigos
Um agradecimento especial ao KZ, que me mostrou esta obra-prima pela primeira vez. Podem encontrá-lo em Lugar Lugares e Dispersário (link's ao lado).
15.6.07
P e s s o a s
A primeira vez que me olharam dentro, estremeci. Senti que o campo velado que tão formiguinhamente construí foi estilhaçado de uma só investida. Fiquei nua e exposta a um estranho e detestei a sensação. Mas compreendi que foi uma rendição justa. Uma batalha sem luta, cavalo de Tróia a ser descoberto apenas quando já o sentia nos meus ecos interiores.
Que interiores complexos se escondem atrás destas máscaras que envergamos todos os dias? Disparo cavalos de Tróia em todas as direcções na esperança de que algum me volte, dócil e obediente, com o segredo de alguém no seio. Por vezes é uma tarefa dificultada por escudos levantados a tudo o que vem do exterior. Há muros levantados sem se saber muito bem porquê. Mas também há frágeis véus, quase transparentes, mas que nos engodam na sua fluidez, acabo por me enlear em camadas de transparências que juntas, formam a mais cega das opacidades. Confesso que essas são as mais desafiantes e recompensadoras: desenlear os véus, um a um, desfazer os nós, pacientemente, com cuidado para não desfiar a fragilidade da organza. Chegar ao último véu e perceber que as primeiras transparências eram as mais enganadoras, pintavam de branco o que era negro, transfiguravam prantos em sorrisos rasgados. Tão perto que estão os dois. Os olhos não sorriem quando há pranto dentro. Hoje passearam-se tantos prantos suspensos por frágeis pinças numa linha de seda. Há que ser rajada de vento e sacudir essas linhas, abrir as pinças e semear prantos pelo mundo.
13.6.07
Perdida entre as l i n h a s
Prefiro a outra, que se vê da janela. As dunas, o deserto: linhas mais suaves.
E sabe-a de cór?
Passei a vida a olhá-la. Que lhe parece?
Cap. XXIX, pg.121
Ouviste?
Ouvi.
Sentiste?
Senti.
Viste?
Vi. Como nunca antes vira.
Então descreve-me tudo isso.
Não posso. O silêncio que humedece as paredes colou-se à minha pele, entranhou-se na garganta e encarnou a palavra por proferir.
O silêncio, sempre o silêncio. Mas porquê?
Porque o revérbero pode ou não surgir no meio de uma tempestade.
E o fogo?
O fogo é... a mudança.
Temes a mudança?
Não. Temo o fim. Habitamos o fim da terra, podemos muito bem habitar o fim dos tempos também.
As palavras no romance de Carlos de Oliveira são pensadas e proferidas como se algo sagrado fosse desprendido a cada fôlego. Nenhuma delas cai num vazio de sentido, são antes habilmente dadas a colher pelo leitor eleito. Em algumas passagens, chegamos mesmo a sentirmo-nos iludidos e pensamos ler poesia em vez da prosa devida ao romance, tal é a subjectividade que experimentamos.
Na brevidade de cada capítulo, somos transportados para um universo narrativo entre o sonho e uma realidade a cada momento questionada. Encontramo-nos entre gisandras que tão depressa são flores, trepadeiras, leite curandeiro ou simples presença certa; enveredamos por áleas mais escuras, ou mais verdejantes, sempre com receio que a floresta se incendeie ou que o revérbero primordial exale uma luz que os nossos olhos não possam suportar. Há sempre um perigo que aguarda lá fora, fora da casa, para lá do halo protector (?), lá onde não se pode fechar as portadas e onde a imutabilidade do quadro pendurado na parede é substituída pela imprevisibilidade das dunas e pelo caotizar lento de um jardim.
Apaguemos a casa, entremos dentro da câmara escura (a penumbra vermelha, os reflexos de sangue nas chapas, nos banhos das cuvetes, cap.XXX), que lá poderemos fotografar a nossa realidade e não ser surpreendidos pela imagem emergente da chapa que, lentamente, rouba ao líquido a definição das suas formas.
11.6.07
S a d S o n g
I said, doctor please
What do you do when your true love leaves?
Said, the hardest thing in the world to do
Is to find somebody who believes in you
I went to the whipper whale
I said, whale please
What do you do when your true love leaves?
She said, I only have one trick I got up my sleeve
I sing it over and over til he comes back to me
I make a sad, make a sad
Make a sad, sad song...
Cat Power
Speaking for trees
10.6.07
Em análise
Ora vamos lá analisar esta providência maiana para o dia 10 de Junho de 2007. Primeira ideia, arrasa logo com tudo: Tudo está ao seu alcance. Meu caro escorpiano, saia cá para fora, arregace as mangas e empenhe-se em fazer tudo aquilo que nunca sonhou ser possível. Hoje (mas só hoje, hein? até às 0h00) poderá fazer tudo! Devido a limites de tempo, terá de ser perto, se uma das suas ideias era escalar o Everest ou o Kilimanjaro, esqueça, com viagens, transfers e fuso-horários não chega lá antes da meia-noite de certeza. Mas não se acanhe, a serra de Sintra também oferece excelentes condições de escalada e aquele nevoeirozinho que paira sempre para aqueles lados até pode dar mais mística à experiência.
Passamos agora para a previsão seguinte: os aspectos sentimentais estão em boa fase. Ok. Não dá assim para uma pessoa se entusiasmar muito, mas já é "razoavelzinho". A fase é boa, fixe. Os aspectos sentimentais são uma daquelas expressões completamente generalistas que abarcam tudo e mais alguma coisa, por isso fica-se na dúvida se se refere aquele relacionamento que está pendurado há dois anos ou à briga que tive com o meu irmão a semana passada. Mas a fase é boa, fixe.
Por último, o clímax: Poderá surgir uma nova solicitação profissional a que terá de aceder. Meu Deus, será? Poderá, eventualmente, hipoteticamente, se nada ocorrer em contrário, se não chover, se eu não for atropelado entretanto, se eu sair de casa, se não perder o telemóvel, se alguém se lembrar de mim.... (and so on and so on) se por acaso se sucederem uma série de acontecimentos específicos, poderá surgir uma solicitação profissional. Iuuupiii!! Mas... espera lá! Solicitação profissional? O que é isso realmente? Será que aquele pedido da minha sogra para lhe montar os bancos da cozinha poderá ser considerado uma solicitação profissional? Ainda por cima, fui alvo de chantagem, portanto, terei mesmo de aceder. São demasiadas coincidências.
Conclusão: a Maia é bruxa. E ninguém desperdiça tanto tempo com um horóscopo do Correio da Manhã. Está assim declarada a completa inutilidade do tempo que me foi concedido e a do vosso, que leram até ao fim. Obrigado.
9.6.07
Alternativas?
Ok, sabemos que seria muito bom sacudir a poeira, levantarmo-nos do chão e ora vamos lá tentar outra vez que esta correu mal. Como se de um ensaio para uma peça se tratasse, o pessoal engana-se, troca as deixas, muda completamente o rumo da história, mas o encenador está atento e: espera lá! Vamos lá fazer a cena do início. Era um cantinho aconchegante saber que se poderia refazer tudo quando algo corre mal. Mas não. Não há cantinhos, não há refúgios, não há colo! Se fazes merda, ardeu! Vive as consequências, meu amigo, sejam elas quais forem! Ouviste muitas vezes dizer com aquela sabedoria de bolso irritante “quem boa cama faz, nela se deita” e cá está a tua caminha: lençóis do avesso, cobertas a escorregar para os lados, cabeceira… qual cabeceira? Foda-se, esqueci-me que a cama tinha de ter uma cabeceira, agora nem sei para que lado me hei-de deitar. Deita-te nela como conseguires, vais remendando os erros conforme puderes.
E uma ajudinha dos amigos, pode ser? Depende. Quantos amigos tens? O que tens feito pela vossa amizade? Quantos cafés recusaste porque não te apetecia aturar outras pessoas? Todas estas perguntas e mais algumas vão ser gritadas de uma alta tribuna por um juiz louco e vais ser julgado pelas tuas respostas antes da mais leve impressão de qualquer braço estendido de ajuda. Amizade incondicional? Pois claro. Existe sim, na Heidi, na Ana dos Cabelos Ruivos, consta que o Sangoku e o Krilin também gozavam de tal estatuto. Cresce! Os amiguinhos não aparecem para salvar ninguém, isso era nos desenhos animados. Lembras-te? Aquela realidade alternativa em que vivíamos durante algumas horas ao fim da tarde, enquanto durava o Brinca Brincando (que já agora é um dos nomes mais estúpidos e redundantes que o imaginário televisivo conseguiu produzir). Na idade adulta, o conceito de amigo deforma-se, qual sadio Tom Sawyer feito Quasímodo, para ser mais um daqueles irritantes estiletes sociais que te espoletam para a vida, qual menir solitário a aterrar num campo de bárbaros que só te querem foder a vida. Literalmente.
Bem, mas que meada fugidia esta, nem me vou preocupar em tentar apanhá-la, já lá vai longe. Uma pausa agora. Estilo Nescafé. Fim de tarde, praia deserta, sentada no capot do carro, a beber um cafezinho quentinho… I can see clearly now the rain is gone… Bullshit, não é nada disto, vou mas é vegetar em frente à televisão.
Bloguemos nós agora!
Já não há leitores possíveis para tanto blog! Mas não digam isto a ninguém, não vá haver aí uma série de suicídios de adolescentes que afinal pensavam que isto era alguma coisa. Eu nego tudo! Qual mão na bíblia, qual quê, enquanto não me mostrarem quem é o autor daquilo, jurar sobre aquilo ou sobre as aventuras da Sabrina é o mesmo!
Não obstante, a verdade é que eles (os blogs) vão existindo, ainda que apenas para o autor/autores e para os amigos mais chegados que, não tendo mais do que fazer lá vão fazendo uns comments aos posts. Este novo vocabulário é lindo! São só pérolas cravadas à martelada nas costas da nossa velhinha língua portuguesa, ela lá vai sobrevivendo... A coitada engole estes estrangeirismos todos, primeiro em seco, para depois os vomitar meio digeridos pelos nossos 800 anos de história e raízes latinas. Nessa altura lá vêm os linguistas muito afoitos, de dicionário debaixo do braço a acenar a modernização e a gritar sítio em vez de site e estoque em vez de stock... enfim. It's evolution, baby!